Reflexão: Leitura, bibliotecas no Brasil e no mundo - Tomo Literário

Reflexão: Leitura, bibliotecas no Brasil e no mundo

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O Brasil atualmente tem 5293 bibliotecas públicas, de acordo com informações obtidas no Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas – SNBP, que está na Coordenação-Geral e se subordina ao Departamento do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, na Secretaria Nacional da Economia Criativa e Diversidade Cultural da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo.

São 1807 bibliotecas no Nordeste, 1274 no Sudeste, 1291 na região Sul, 498 no Centro-Oeste e 423 na região Norte. Utilizando a estimativa de habitantes atuais, em torno de 210 milhões de brasileiros (dados projetados com base no Censo Demográfico de 2010 realizado pelo IBGE), o território nacional tem 1 biblioteca para cada 39.675 habitantes.

Ao separarmos por região temos o seguinte cenário: no Norte há 416 bibliotecas geridas pela municipalidade e 14 pelo estado; na Região Nordeste são 1789 municipais, 17 estaduais e 1 distrital; na Região Centro-Oeste temos 469 bibliotecas municipais, 3 estaduais, 25 distritais e 1 federal; na Região Sudeste há 1266 municipais, 7 estaduais e 1 federal; e, na Região Sul, o quadro se completa com 1286 bibliotecas municipais e 5 estaduais.

Pela definição do Ministério do Turismo, a biblioteca pública “tem por objetivo atender por meio do seu acervo e de seus serviços os diferentes interesses de leitura e informação da comunidade em que está localizada, colaborando para ampliar o acesso à informação, à leitura e ao livro, de forma gratuita. Atende a todos os públicos, bebês, crianças, jovens, adultos, pessoas da melhor idade e pessoas com deficiência.”

Ao compararmos os números de bibliotecas existentes em outros países, por meio do Library Map of the Word, da IFLA – Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias, a Índia tem 146.173 bibliotecas, a Rússia 37.138, os Estados Unidos 17.227, o México 7.427 e a Itália 6.042. Com base nesses números verifica-se que o Brasil, com cerca de 210 milhões de habitantes, tem menos bibliotecas que a Itália que tem 60,5 mil habitantes.

A IFLA – Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias em seu manifesto com a UNESCO (1994), declara: 

“A liberdade, a prosperidade e o desenvolvimento da sociedade e dos indivíduos são valores humanos fundamentais. Só serão atingidos quando os cidadãos estiverem na posse da informação que lhes permita exercer os seus direitos democráticos e ter um papel ativo na sociedade. A participação construtiva e o desenvolvimento da democracia dependem tanto de uma educação satisfatória, como de um acesso livre e sem limites ao conhecimento, ao pensamento, à cultura e à informação. A biblioteca pública - porta de acesso local ao conhecimento - fornece as condições básicas para uma aprendizagem contínua, para uma tomada de decisão independente e para o desenvolvimento cultural dos indivíduos e dos grupos sociais.”

Temos que pensar que a questão das bibliotecas não é apenas quantitativa, mas sobretudo qualitativa. O país precisa de bibliotecas públicas que funcionem, que sejam acessíveis (estejam num local de fácil acesso ao grande público e tenha acessibilidade), que tenham um acervo atualizado e de qualidade, que funcione também aos finais de semana para atender a população que não tenha acesso em horário comercial e que ofereça outros serviços que sejam significativos para a comunidade e sirvam de incentivo para que as pessoas frequentem o local. Do outro lado, é necessário que os usuários zelem pelo local e tenham a sensação de pertencimento para cuidar do estabelecimento e exigir melhorias.

No país, temos exemplos de bibliotecas de êxito, como a Biblioteca Mário de Andrade e a Biblioteca Parque Villa-Lobos, ambas em São Paulo; e, podemos citar a Biblioteca Nacional, localizada no Rio de Janeiro. Contudo, temos municípios que sequer tem livraria, quem dirá biblioteca pública. Aqui nós esbarramos numa questão de gestão e políticas publicas que precisam ser elaboradas e colocadas em prática para fomentar a leitura. O poder público deve ser cobrado para que compreendar a importãncia dos livros.

Outro ponto que deve ficar em mente é que não é apenas abrir a biblioteca e deixar à mercê do tempo e para que sirva apenas para rechear campanhas eleitorais de fotos de inauguração. É preciso incitar o usuário do local para que leia e use o equipamento. A biblioteca pública não pode ser mera fornecedora da informação, mas deve ser provocadora do processo de mudança, capaz de permitir ao usuário transformar sua realidade com as informações que obtém por meio dos livros.

Há que se pensar, ainda, que a biblioteca por séculos foi a instituição protetora do conhecimento que a humanidade detém. Contudo, nem todas as bibliotecas são iguais e nem servem ao mesmo público. Assim sendo, não é possível que a biblioteca pública seja tratada como um espaço qualquer, lotado de livros. O pensar sobre a biblioteca é mais profundo, deve atingir o nível da educação. Aliás, no Brasil, as bibliotecas públicas estão sob o comando do Ministério do Turismo. Há que se pensar, não deveriam ser coordenadas pelo Ministério da Educação, vez que não temos o Ministério da Cultura? A questão merece debate.



Breve história das bibliotecas públicas

A primeira biblioteca pública do Brasil foi a Biblioteca Pública da Bahia, hoje chama de Biblioteca Central do Estado da Bahia, cuja fundação é datada de 13 de maio de 1811. A inauguração da biblioteca ocorreu por iniciativa de um rico senhor de engenho chamado Pedro Gomes Ferrão Castelo Branco acompanhado de um grupo de homens cultos que, escondidos, liam em clubes de maçonaria os livros franceses com ideias do Iluminismo.

Em 1911, ou seja, cem anos depois de sua data inaugural, a referida biblioteca contava com 42 mil volumes, no entanto, somente 300 obras sobreviveram quando da ocorrência de um incêndio no edifício em 1912. Em 1939 a biblioteca renasceu sob a administração de Jorge Calmon, que modernizou a biblioteca ao longo de três anos.

Os primeiros acervos no país surgiram graças às companhias religiosas, sobretudo a Companhia de Jesus, o que ocorreu na segunda metade do século XVI.

Em 1773 ocorreu a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal e os bens dos jesuítas também foram confiscados na ocasião. As bibliotecas se tornaram verdadeiros amontados de livros que foram se deteriorando com o passar dos anos. 

Foi com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1807, que a Biblioteca Nacional foi inaugurada, graças a Alexandre Antônio das Neves (encarregado da biblioteca real), que sugeriu ao príncipe Dom João que despachasse os caixotes de livros para o Brasil. Todavia, foi somente em março de 1811 que os primeiros 230 caixotes foram embarcados para a colônia e a biblioteca foi efetivamente aberta ao público em 1814, ou seja, 7 anos após a chegada da família real.

O que diz a pesquisa Retratos da Leitura sobre as bibliotecas?

Na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo IPL – Instituto Pró-Livro em 2019, a biblioteca aparece como o terceiro meio de acesso aos livros, transformando-se num equipamento importante de acesso e fomento à leitura. 43% dos leitores entrevistados compram livros em lojas físicas ou pela internet, 23% leem os livros com os quais são presenteados e 18% emprestam as obras de bibliotecas.

Para a maioria dos leitores, a biblioteca representa um lugar de pesquisa e estudo e, na sequência, é vista como um lugar para emprestar livros, o que corrobora o fato de a biblioteca ser importante meio de acesso às obras. Muitas são as pessoas que só leem em razão da existência de uma biblioteca que lhes empreste o livro.

Na mesma pesquisa, a biblioteca aparece como o terceiro lugar em que o leitor costuma ler, sendo o primeiro a residência e o segundo a escola. Portanto, temos que repensar sobre o que imaginamos da biblioteca. A pesquisa demonstrou que é um importante meio de acesso aos livros e local de leitura.



Uma nova perspectiva que não pode ser deixada de lado

A popularização da internet e de novas tecnologias afetam a relação do usuário com a biblioteca. Veja-se como exemplo as muitas universidades que privilegiam o acesso remoto em detrimento do atendimento presencial em suas bibliotecas. 

Se outrora o aluno tinha o espaço físico da biblioteca como ambiente para realização de estudos e reunião de grupos para tratar dos temas que viam em sala de aula, hoje reforçam o panorama de que a leitura é um hábito solitário. Essa nova configuração se fortaleceu ainda mais com o período no qual enfrentamos a pandemia. Afastados do ambiente escolar, o recurso da biblioteca online se tornou ferramenta indispensável. Tal visão é um dos apontamentos feitos no Relatório de Tendências elaborado pela Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA).

Com o crescimento das publicações de e-books o cenário também se reconfigura nesse mesmo modelo. Todavia, é preciso que tenhamos em mente o lugar que a biblioteca ocupa, sendo, além de local de obtenção de livros para leitura, um espaço de possibilidades de conhecimento. Nesse sentido, temos que repensar como as bibliotecas podem se tornar esse equipamento em que as ações conjuntas e de aprendizado podem ser reforçadas. Não se trata apenas de um local para ler, mas sobretudo para construir conhecimento.

A biblioteca pode ser vista como um espaço de fomento à diversidade de atividades culturais, distanciando-se daquela imagem de silêncio sepulcral que tínhamos no passado e vemos representada nos filmes. 

As dezenas de estantes de livros das quais os leitores extraem única e exclusivamente a obra para leitura solitária não são apenas o depósito de pó e tampouco são apenas aglomerados de livros. Nas bibliotecas, há que se reconfigurar o espaço, para que se tenha as duas vertentes: a leitura isolada para estudo (que deve permanecer, logicamente) e outras atividades que podem ser feitas de forma coletiva, tais como lançamentos de livros, reuniões e debates de clubes de leitura, mesas de discussões com escritores, eventos de editoras e escritores independentes, contação de histórias, cursos relacionados ao mercado editorial e uma infinidade de outras atividades relacionadas ao livro e à cultura, numa constante abertura de promoção ao uso do espaço pela comunidade.

Com a multiplicidade de possibilidades de uso do espaço, a leitura há que ser reforçada nesse contexto de interação.

Faço aqui um convite: como está a biblioteca pública mais perto de sua casa? Que tipos de ações você tem visto nessas bibliotecas? As entidades e os governantes locais estão fomentando a leitura nesses espaços? Reflita.

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