Os transtornos mentais ou doenças
psicológicas, em suas mais variadas formas, ganham vez na ficção. Na literatura
a questão é abordada em vários personagens de livros contemporâneos e
clássicos. Vale dizer que eles não tem viés didático, posto que o transtorno é
utilizado como mote para ações do personagens e a constituição da trama dentro
de uma narrativa ficcional. Montei uma lista com dez livros que tem personagens
com algum tipo de transtorno ligado a mente.
Mas atenção, quando falamos de tais
transtornos na vida cotidiana, na realidade, fora das páginas do universo
literário, a orientação é de procurar por tratamento especializado. Nada de
romantizar ou encarar como brincadeira! Saúde mental é coisa séria! O objetivo
da postagem é tão somente abordar os livros.
Confira a lista:
Arco de
Virar Réu
Autor:
Antonio Cestaro
Editora:
Tordesilhas
O livro tem uma narrativa não linear em que o
personagem-narrador fala sobre a constatação da doença mental de seu irmão mais
novo, Pedro. Primeiro ele fora diagnosticado com desorientação e,
posteriormente, com a confirmação de sua esquizofrenia. O próprio narrador, ao
longo da trama, vai se revelando também uma pessoa que sofre com a deterioração
física e mental. É nesse emaranhado de fragmentos que flutuam entre o delírio e
o real que o leitor acompanha a história.
Autor:
Miguel de Cervantes
Editora:
34
No personagem central da obra do escritor
espanhol Miguel de Cervantes, Dom Quixote, é um homem que é definido como
louco. A loucura teria tomado o personagem após grande dedicação dele a
leitura. Não é especificado o tipo de transtorno que o acomete, mas é visível
que ele tem uma visão imaginária em relação a toda a realidade que o ronda, ao
longo dos dois volumes. “... de pouco
dormir e de muito ler se lhe secaram os miolos, de modo que veio a perder o
juízo.” Em Dom Quixote reside a loucura de um sonhador que quer conquistar
os seus feitos de cavalaria. Observa-se que ele distorce a realidade e vê nas
ações e pessoas que o cercam figuras que tem ligação com sua paixão pelas
histórias de cavaleiros.
Autor:
Joshua Ferris
Editora:
Casa da Palavra
O livro conta a história de um advogado
chamado Tim Farnsworth. Homem bem-sucedido, casado, pai de uma adolescente, Tim
sofre de uma compulsão misteriosa, que não tem precedentes nos anais da
medicina. Ele sente uma compulsão que não consegue controlar e que o faz sair
caminhando, como se perdesse o controle de suas próprias pernas. Tal transtorno
o leva a caminhos imprevisíveis e intermináveis. O livro tem uma alusão
metafórica em relação ao mal que assola o personagem e trata questões que estão
relacionadas a aceitação das pessoas pelas suas diferenças e a compreensão de
algo desconhecido que pode atrapalhar a vida de outras pessoas. Corpo e alma
são tratados na obra. Convém reforçar, o transtorno que acomete o personagem é
desconhecido no livro e não sabe-se se advém de algo mental ou físico.
Autor:
Keith Donohue
Editora:
DarkSide Books
Jack Peter, o menino que imagina que monstros
estão perseguindo-o em seus sonhos e que os desenha, é filho de Holly e Tim. O
garoto não sai de casa e é portador da síndrome de Asperger. Ele não gosta de
contatos físicos e vive em seu mundo particular. Os portadores da síndrome tem
grande dificuldade de interação social e de comunicação, além de possuírem
interesses obsessivos por determinados assuntos. A partir dos desenhos que ele
cria, mistérios rondam a família e eles tentam desvendá-los. Num segundo plano
do livro vemos o “debate” que existe em torno da síndrome do menino, vez que
seu pai encara com mais naturalidade e sua mãe vê como um problema a ser
enfrentado.
Autora:Caitlín
R. Kiernan
Editora:
DarkSide Books
O livro é narrado por India Morgan Phelps,
chamada simplesmente de Imp. Misturando várias vertentes artísticas, a
personagem tem uma mente esquizofrênica e escreve sua história (ela é
escritora, embora assim não se considere). A mãe da personagem se suicidou e
tinha transtornos mentais, morreu num hospital para loucos e sua avó também se
matou. É a visão esquizofrênica da narradora, entremeada pela reconstrução de
suas lembranças e fantasmas que torna a obra não linear, num emaranhado de
fragmentos que demonstram a mente desconexa de Imp, não concluindo o que é real
ou o que é fruto do imaginário da protagonista.
Autora:
Clare Vanderpool
Editora:
DarkSide Books
O livro trata da construção da relação de
amizade entre dois garotos, Jackie e Early. Early Auden é considerado um garoto
estranho e as pessoas se afastam dele. Ele aparenta genialidade, quando
demonstra as explicações e teorias sobre Pi (a referência ao número), mas tem
dificuldade de relacionamento. Como é revelado no livro Early pode ser considerado
um garoto que tem um grau funcional de autismo. Vale dizer que autora revela
que o personagem não é uma descrição/representação do autista, mas ele tem
elementos do autismo, como a introspecção e a percepção do mundo modo bastante
particular. Observa-se que no período em que a história se passa, o autismo
ainda não era reconhecido.
Editora:
L&PM
Autor:
Machado de Assis
O Alienista, escrito por Machado de Assis é
por uns considerado como conto e por outros como novela, dada a sua estrutura.
Fato é que conta a história de um médico que volta a sua terra-natal, Itaguaí,
e, dedicando-se aos estudos da psiquiatria, resolve montar um manicômio para
abrigar os loucos da cidade e da região. O problema é que ele acaba vendo
loucura em todos e a internar pessoas que não deveriam ser internadas. Com as
ações que se desenrolam no livro o alienista resolve montar um outra teoria
para considerar as pessoas loucas. A questão central da história que paira é:
quem é verdadeiramente louco?
Autor:
Erasmo de Rotterdam
Editora:
L&PM
Nesse livro clássico de Erasmo de Rotterdam
revela a face da sociedade européia do século quinze. No livro há o tratamento
que mistura sabedoria e loucura, ilusão e verdade. A loucura é a narradora da
história, falando sobre comportamento humano, fé e filosofia. Ela mostra como
está presente na vida das pessoas e que ela é que move os humanos (nos atos
grandiosos e nos bizarros). O livro foi escrito originalmente em 1501. Focault,
em 1976, ressaltou que o livro realça a consciência crítica.
Autor:
Matthew Quick
Editora:
Intrínseca
Pat Peoples é um ex-professor que acaba de
sair de uma instituição psiquiátrica. Ele não se lembra do que fez para ir
parar lá e tenta recompor suas memórias, que apresentam lapsos. O pai não quer
falar com ele, a esposa evita revê-lo e os amigos não comentam o que aconteceu
antes de ele ir para a clínica. Agora, viciado em exercícios físicos, ele quer
reconquistar a mulher.
Autor:
Naoki Higashida
Editora:
Intrínseca
O livro em questão veio para a lista por uma
particularidade, ele foi escrito por um garoto que tem autismo severo.
Portanto, esse não é um livro ficcional. Com dificuldade para se comunicar
verbalmente, Naoki aprendeu a se expressar apontando letras numa cartela de
papelão. Aos treze anos escreveu um livro. O Que Me Faz Pular explica o
comportamento de pessoas com autismo. Por ele é possível compreendermos um
pouco sobre suas percepções sobre o tempo, vida, beleza e natureza. É um bom
livro para adentrar o assunto.
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