[Entrevista] Arnaldo Pagano - Tomo Literário


Arnaldo Pagano é jornalista, bacharel em filosofia e escritor. Atua desde 2010 como redator de conteúdo digital da RecordTV. É autor do romance policial Sangue Tinto, publicado em 2018. Arnaldo falou ao Tomo Literário sobre seu contato com a literatura, a ideia de seu livro, o mercado literário para escritores brasileiros de romance policial, novos projetos e muito mais. Confira a entrevista.

Tomo Literário: Como foi o seu primeiro contato com a literatura e como decidiu ser escritor?

Arnaldo Pagano: Comecei a ter contato com o mundo dos livros muito pequeno. Minha tia, já falecida, tinha uma estante enorme de livros e eu lembro de sempre olhar para aquela estante com grande encantamento. Ela também me estimulou a ler desde cedo, e a escola teve papel importante, claro. Dos primeiros livros, lembro daqueles da Coleção Vaga-Lume com carinho, além de Monteiro Lobato. Pelo contato com a literatura também peguei o gosto pela escrita, que sempre foi a forma pela qual me expresso melhor. Decidi pela faculdade de jornalismo e a passagem para a ficção foi quase natural. Hoje nem consigo imaginar como seria se não tivesse enveredado por esse caminho. Há quase uma necessidade de criar histórias.

Tomo Literário: O Museu de Selfie e Outras Histórias é uma reunião de contos. Você preparou os textos pensando no livro ou o fez a partir de escritos independentes? Como surgiu a ideia da obra?

Arnaldo Pagano: Em 2013 criei um blog com a ideia de publicar contos. À época, havia decidido me dedicar com mais afinco à literatura. Alguns contos do livro saíram de lá, outros, de sites ou revistas literárias para as quais colaborei, e alguns eu escrevi depois de decidir que deveria reunir meus textos em um livro. Digamos que o livro reúne o que produzi de melhor entre 2013 e 2017. Foi até uma forma de conhecer melhor meu estilo. Apesar de ser uma reunião de textos tão dispersos, o livro traz uma linha que vai do primeiro ao último conto. Os personagens estão sempre numa espécie de fronteira entre o real e o irreal, talvez seja o ponto comum de toda a obra.

Tomo Literário: Dos contos que você escreveu, qual aquele que você destacaria como o que melhor define o seu estilo de escrita?

Arnaldo Pagano: Museu de Selfie, que dá título ao livro. Traz esse jogo com o leitor sobre o real e o irreal, o banal e o absurdo, além de ser uma boa peça de mistério. Destaco também Esqueça Bentham, que é minha primeira incursão para valer no gênero policial.

Tomo Literário: Seu novo livro é Sangue Tinto. Como foi a composição dessa história? O que o moveu a escrevê-la?

Arnaldo Pagano: Eu cursava filosofia na USP e surgiu a oportunidade de fazer um semestre do curso na Universidade do Porto, em Portugal. Não fui com a intenção de escrever um romance, mas lá tive, além de tempo, a inspiração necessária para essa primeira experiência. A obra se passa toda na cidade do Porto. O crime que dá início à obra ocorre no principal cartão-postal da cidade, uma ponte pela qual eu passava todos os dias. Eu frequentei e visitei todos os lugares retratados no livro. Foi uma experiência bem pessoal. O Roberto Pedretti, que fez a preparação da obra para a Ed. Transversal, a definiu como um mistério elegante, que cativa o leitor tanto pela solução do caso de assassinato como pela ambientação. Acho que é uma boa definição.

Tomo Literário: É possível dizer quanto da sua formação como jornalista e filósofo aparecem em suas histórias? Ajuda a compor os personagens?

Arnaldo Pagano: A formação em jornalismo me ajuda a identificar o que é, de fato, uma boa história. Obviamente, jornalismo e ficção têm critérios bem diferentes, mas uma boa história é sempre uma boa história, seja ela real ou fruto da imaginação. A filosofia ajuda também, especialmente a formular as perguntas que precisarão ser respondidas ao longo do processo criativo. A construção de cada personagem deve vir carregada de uma boa dose de questionamentos. Mas, nesse sentido, a formação profissional é secundária. São, sobretudo, nossas experiências pessoais que se acabam por se refletir nas histórias e nos personagens. Digo no plural, pois, acredito, esse seja um traço comum a todo escritor.


Tomo Literário: Na sua visão, como está o mercado literário para os autores nacionais, sobretudo para os de literatura policial?

Arnaldo Pagano: Está difícil. Confesso que estou batendo cabeça para fazer a divulgação de Sangue Tinto (risos). Às vezes tenho a impressão que temos mais autores do que leitores. Para deixar claro, não há mal nenhum em haver muitos autores, isso é ótimo. O problema é que lemos pouco. Investe-se pouco em educação e na formação de leitores – com a PEC do teto dos gastos então, esse cenário é ainda mais desolador para o futuro, e obviamente isso se reflete no mercado literário. Quanto à literatura policial, ainda há um caminho a ser percorrido para que o leitor brasileiro consuma a literatura policial produzida aqui, e o primeiro passo é que entendamos que a ficção não tem a obrigação de reproduzir fielmente o que é a polícia brasileira. Quando isso for compreendido, poderemos alçar voos maiores no gênero.

Tomo Literário: De modo geral o que te inspira a escrever?

Arnaldo Pagano: A insatisfação. Mas não é insatisfação com algo específico, como uma injustiça social ou uma violência. O que posso apreender da realidade não me satisfaz. É preciso criar um mundo novo, novos cenários, personagens, enredos, seja para interpretar a realidade como para dar a ela um novo sentido. Mais uma vez, acho que isso não se restringe a mim, é um traço comum a todo escritor de ficção.

Tomo Literário: Você está preparando algum novo projeto literário? Pode nos adiantar alguma informação?

Arnaldo Pagano: Comecei a escrever um novo romance num curso de escrita criativa do Carreira Literária. Cheguei a parar, mas não desisti do projeto. É a história de uma professora que sofre de depressão e encontra uma oportunidade de se vingar dos seus maiores algozes, os patrões, no caso. É um desafio, até por ser narrado em primeira pessoa por uma mulher. É o que posso adiantar, por enquanto. Pretendo concluí-lo até o fim do ano.

Tomo Literário: Quais são os autores que você admira ou que de alguma forma influenciaram o seu trabalho como escritor?

Arnaldo Pagano: Meus autores favoritos são Saramago e García Márquez, sem dúvida. Em relação a influências, é algo que varia muito. Quando releio meu primeiro livro, por exemplo, percebo que estava muito influenciado pelas leituras do Borges. Sangue Tinto, por sua vez, tem influências de obras policiais que me marcaram, como a trilogia Millenium, do Stieg Larsson, e O Silêncio da Chuva, do Garcia-Roza.

Tomo Literário: Que livros, de quaisquer gêneros, você recomendaria aos leitores? Está lendo algum atualmente?

Arnaldo Pagano: Não é algo que eu faça costumeiramente, mas estou lendo dois livros simultaneamente: Quincas Borba, do Machado de Assis, e A Elite do Atraso, do Jessé de Souza. Aos leitores, recomendo que procurem se interessar pelos novos autores brasileiros. Tem muita coisa boa por aí que não recebe atenção da mídia.

Tomo Literário: Gostaria de deixar algum comentário para os leitores do blog?

Arnaldo Pagano: Na noite do lançamento de Sangue Tinto, estive a conversar com um livreiro da Blooks e ele falou que boa parte dos frequentadores recusa suas sugestões de literatura brasileira por simples preconceito. Minha recomendação é essa: não tenham preconceito com nenhum livro.

Conheça os livros de Arnaldo Pagano:

Museu de Selfie e Outras Histórias


O projeto secreto de um museu de selfie, o assassino de inspiração filosófica, o casal de confeiteiros que se lambuza de doces para fazer sexo, desenhos que saem do papel para revelar uma verdade obscura ao cartunista, o lutador de MMA que sente tesão durante o combate. Em Museu de Selfie e outras histórias, os personagens situam-se sempre na fronteira entre o real e o irreal, o banal e o absurdo, o corriqueiro e o fantástico. Os dez contos que compõem o livro de estreia de Arnaldo Pagano trazem narrativas que aliam enredos instigantes, viradas e surpresas a reflexões sobre os temas mais complexos da experiência humana.

Disponível na Amazon.

Sangue Tinto


Daniel Figueroa é um renomado investigador da polícia de São Paulo que, depois de um grande trauma, decide abandonar a profissão.

Porto, a cidade no norte de Portugal, parecia perfeita para superar os problemas vividos na polícia, mas depois de uma bebedeira na tradicional “noite de baldes” na Ribeira, ele presencia um assassinato no principal cartão-postal do local. Uma mulher é jogada da Ponte Luís I em direção ao Rio Douro e Figueroa é a única testemunha.

Mesmo após contar à polícia portuguesa o que viu, a morte da historiadora Filipa Boaventura é considerada suicídio e o caso é encerrado. Disposto a esquecer tudo o que aconteceu, Figueroa só não esperava que a jovem policial Paula Guterres cruzasse seu caminho. Atrás do assassino, a nova dupla mergulha num universo cheio de segredos e começa a descobrir o que está por trás da morte de Filipa.

Com uma escrita eletrizante, Arnaldo Pagano convida o leitor a desvendar os mistérios de uma trama envolvendo duas famílias rivais, donas das maiores empresas de vinho da cidade do Porto.

Disponível na Editora Oito e Meio.

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