Obra
publicada pela editora Draco explora temas atuais como uso abusivo de drogas,
questões de gênero e intolerância religiosa
“Todas as pessoas têm um desejo maior e mais
profundo dentro de si.” (pág. 24)
Decidido a se afastar do modelo tradicional de escrever fantasia,
canonizado por J.R.R. Tolkien, o escritor, roteirista de quadrinhos e professor
de escrita criativa Vilto Reis (@viltoreis) procurou novas
possibilidades para contar sua história. Buscando novas referências, sem deixar
de lado obras seminais como “Duna”, de Frank Herbert, Vilto também encontrou em
questões que pautam o mundo na atualidade a inspiração para escrever “Nascida Para
o Trono – Serpentes e Traições” (288 pág.), obra
publicada pela editora Draco. O autor
lança a obra em São Paulo no dia 6 de abril, no Miquelina Pub (Rua Francisca
Miquelina, 66, Bela Vista), às 18h.
Além de expandir a imaginação em um cenário de conflitos,
instabilidade política e pesada mão religiosa sobre a vida do povo, o escritor,
que já foi jurado do Prêmio Jabuti em 2022, constrói uma narrativa envolvente
onde todos os elementos indispensáveis ao gênero se fazem presentes.
A história se passa no coração de Camara, um universo de fantasia
épico inspirado nos grandes impérios africanos, onde repousa a Cidade Prateada,
a capital de uma confederação de povos guerreiros onde manipulações, traições e
disputas do Conselho — liderados pela Guardiã — oprimem a população através do
poder do Totem da Serpente, uma joia capaz de despertar habilidades
sobrehumanas em pessoas comuns.
É lá que vive Núbia Naja Branca, uma debochada ladra que foi um
prodígio de sua geração, mas acabou com os poderes bloqueados como punição por
um crime do passado. Hoje, entrega-se à decadência de ser uma renegada de seu
povo, afogando as mágoas em bebidas e drogas destrutivas para o corpo, como o
Bagandolá.
Uma nova oportunidade de recomeçar surge quando é contratada para
roubar o Totem da Serpente, a joia mais importante da confederação, protegida
pela Nona Guardiã, sua própria irmã. Contudo, um general lendário e
revolucionário deseja o mesmo item para derrubar o poder político de Camara,
motivado por um fato que se liga ao passado de Núbia.
O romance foi lançado junto com "Fim do Império",
quadrinho em que Vilto também atua como roteirista e que conta com arte de
Lucas Machado.
Um novo olhar para a contemporaneidade
Enquanto a fantasia muitas vezes é vista como uma forma de
escapismo, no livro, segundo o autor, ela serve como um meio de explorar e
oferecer novas perspectivas sobre questões atuais. Um dos principais temas é o
uso abusivo de drogas. “Utilizo elementos de fantasia para explorar as
complexidades e as consequências desse problema na sociedade”, aponta, sem
condenar o uso recreativo durante a obra.
Além disso, o livro aborda questões de gênero (a protagonista é
uma mulher trans), destacando as diversas formas como a identidade e a
expressão de gênero se manifestam e são percebidas em diferentes contextos.
Outro tema crucial é a intolerância religiosa. Através de uma narrativa
fantasiosa, o livro analisa como a intolerância e o preconceito podem se
infiltrar e afetar as relações humanas, levando a conflitos e mal-entendidos.
Tecer a narrativa levou tempo, pesquisa e experimentação, por meio
da consulta de livros, documentários e filmes. “Filhos de Sangue e Osso”, de
Tomi Adeyemi, e as histórias do Pantera Negra, da Marvel Comics, por exemplo,
incorporaram a cultura africana à fantasia – os impérios africanos, sua cultura
e organização são o ponto de partida para a criação de “Camara”.
Seu estilo de escrita, com frases curtas e concisão, é
influenciado por autores como Joe Abercrombie, Andrzej Sapkowski e Leonel
Caldela. A leitura de “Nascida Para
o Trono” é imersiva como uma partida de RPG – em que as
descrições das ações e movimentos são precisas e rápidas.
A obra passou pela leitura sensível de Ariel Hitz, autor de
“Camomila” e outros livros de representatividade trans, e do escritor e
tradutor Oghan N'thanda, vencedor do Wattys 2018 na categoria “World Builders”
e consultor criativo do RPG Afrofuturista O Último Ancestral.
Como nasce um escritor de fantasia?
Vilto Reis é escritor, roteirista de quadrinhos, professor de
escrita criativa, jogador de RPG e participante do Podcast de Literatura
30:MIN, um dos mais ouvidos do Brasil sobre livros. Também é autor de “Fim do
império” e “Um gato chamado Borges”, obra finalista do Prêmio SESC 2015, e teve
contos veiculados em diversas antologias e revistas.
O escritor também fundou o portal Homo Literatus, onde atuou como
editor por mais de sete anos, e esteve à frente de iniciativas como a Editora
Nocaute e a Revista Pulp Fiction. Com experiência como apresentador do programa
de televisão LiteratusTV, em 2022, fez parte do júri do Prêmio Jabuti na
categoria Literatura de Entretenimento.
Sua verdadeira inspiração para começar a escrever veio um pouco
antes da faculdade, quando descobriu o Nerdcast e a história de Eduardo Spohr,
um escritor brasileiro bem-sucedido. Daniel Galera, com seu livro “Barba
Ensopada de Sangue”, também foi uma grande influência, mostrando que era
possível criar histórias em cenários familiares. O ponto de virada foi a
criação do blog literário Homo Literatus em 2011, após uma palestra inspiradora
no Festival de Publicidade de Gramado. “Esse projeto me permitiu explorar a
escrita e a crítica literária, além de me conectar com outros apaixonados por
literatura”, explica.
Em 2018, com a iminência do nascimento do seu filho, começou a
trabalhar em um novo romance. “No entanto, depois de um evento tão
emocionalmente transformador como a paternidade, voltei ao texto e não me
reconheci mais nele. Não era o tipo de escritor que queria ser, nem o tipo de
livro que queria escrever. Então, nos meses que se seguiram, passei a rascunhar
ideias, explorar possibilidades, até que reencontrei minha verdadeira paixão: a
fantasia épica”, conta.
Para desvendar a escrita de fantasia, mergulhou na leitura de
inúmeras obras de fantasia, tanto clássicas quanto contemporâneas, enquanto
também escrevia contos para praticar e desenvolver sua própria linguagem. O
escritor ainda tem outras histórias no forno, quase prontas, que serão
divulgadas aos poucos por meio de suas redes sociais. Atualmente, mantém um
canal no Youtube dedicado a quem busca escrever livros. Além disso, ministra
cursos e oficinas, realiza leituras críticas e oferece mentoria para aspirantes
a escritores.
Mais informações em www.viltoreis.com.
Adquira a obra via Editora Draco:
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