Orgulho e Preconceito - Jane Austen - Tomo Literário

Orgulho e Preconceito é considerada a obra mais célebre da escritora Jane Austen. A edição objeto da resenha foi publicada em capa dura pela Martin Claret em 2018 (421 páginas). O livro conta com tradução de Roberto Leal Ferreira. O texto de Jane Austen foi escrito entre 1796 e 1797 e lançado originalmente em 1813.

O livro é uma imersão na burguesia inglesa a partir da vida da família Bennet que espera arranjar casamento para as filhas com um homem de posses. Lizzy e Jane, a mais velha das filhas, são as que mais sentem-se pressionadas por esse arranjo. 

Os Bennet recebem a notícia que Netherfield, uma propriedade próxima, fora alugada por "um jovem de amplas posses do norte da Inglaterra". Bingley é o nome do homem que agora ocupa a propriedade. A Sra. Bennet deseja que seu marido faça uma visita ao novo morador, como forma de apresentação e de aproximação. Aproximação essa que deve ser desviada para as filhas. 

Uma festa é realizada por Bingley e surge na trama o Sr. Darcy que, "logo chamou a atenção do salão pela figura elegante e alta, as belas feições, o porte nobre e a notícia, que passou a circular cinco minutos depois da chegada, de que dispunha de uma renda de dez mil libras por ano". Ele vê algo diferente em Elizabeth Bennet, a Lizzy

Na época as mulheres tinham poucas opções de ascensão social, sobretudo para aquelas que não possuíam dote, o que é o caso de Elizabeth e suas irmãs. Note-se que em função da lei do morgadio, a transferência de bens era realizada sempre para alguém do sexo masculino na linha sucessória. Como a família Bennet era composta apenas por filhas mulheres, automaticamente as propriedades da família seriam transferidas para o Sr. Collins, primo do Sr. Bennet. O tal homem é uma preocupação, posto que poderia expulsar todos da casa quando o patriarca falecer. Collins faz uma visita aos Bennet.

Desde o primeiro contato entre Darcy e Lizzy é possível sentir que há alguma faísca criada entre eles. Em dado momento Lizzy tem informações que a deixam ressabiada com a idoneidade de Darcy, muito embora demonstre que sinta por ele algum tipo de afeição. Ela tenta compreender o que de fato teria acontecido. A busca que ela faz pelas impressões de terceiros é uma forma de chancelar suas percepções com a opinião alheia.

As festas e os bailes são o centro dos grandes encontros da sociedade. Ali eles falam sobre a vida, planos para o futuro e comentam também sobre a vida dos outros, além de tentarem se aproximar para criar relacionamentos que são movidos por interesse financeiro. O pano de fundo histórico que retrata a burguesia inglesa no século XIX nos leva a um romance em que as relações (seja elas quais forem) são movidas não somente por amor, mas, sobretudo, por dinheiro.

A protagonista de Orgulho de Preconceito é uma mulher a frente de seu tempo e que tem objeções com as convenções sociais estabelecidas na época em que vive. Como ela é uma mulher cheia de personalidade, beleza e orgulho, além de falar e ter posturas que contrariam sua mãe, Elizabeth é tida como um caso perdido para que consiga um bom casamento. Entenda-se como "bom casamento" aquele que seria realizado com um homem rico e de posição privilegiada.

Nota-se que, na visão da mãe, Lizzy não é uma mulher com um comportamento adequado. Uma posição um tanto quanto ligada às convenções sociais. Vale ainda ressaltar que entre as filhas Elizabeth era preterida por sua genitora. "Elizabeth era de todas as suas filhas a de que menos gostava". No entanto, Lizzy é admirada pelo pai e compreendida por ele. 


O contraponto das questões sociais, que são tratadas na forma como os personagens se comportam e nos comentários que fazem a respeito da família Bennet, por ser uma família de menos posses (ainda que não sejam pobres), cria na trama o preconceito. É o que ocorre, por exemplo, com Caroline Bingley - a irmã do Sr. Bingley - que é contrária a sua aproximação com Jane Bennet - irmã de Elizabeth - em razão de sua classe social. Podemos afirmar que, na visão deles, os mais ricos casam com os mais ricos e os mais pobres casam com os mais pobres.

Collins, Lady Catherine e a irmã de Bingley são um bom exemplo, dentro da história, do que é a visão da sociedade dotada de hipocrisia, uma pitada de maldade que se expressa pelas palavras que dizem a cerca dos Bennet e a tentativa de afastar a família da possibilidade de criar laços matrimoniais com membros de maior posse.

A dualidade entre amor e dinheiro é, por assim dizer, o mote central da história criada por Jane Austen. Há o orgulho de se gabar de posses e o preconceito em relação à origem das pessoas. Quanto menos abastadas financeiramente mais são rechaçadas ou tratadas de forma diferente. Nada muito diferente do que ocorre nos dias atuais.  Há também o orgulho em não se admitir os sentimentos que se nutre por alguém de menor posse e o preconceito criado em relação aquele que é tachado de arrogante e inescrupuloso.

O casamento, nesse cenário que se apresenta ao leitor, aparece como um acordo social e comercial, em que os interesses, sobretudo os financeiros, pesam na decisão de se construir uma relação. A mulher tinha o papel de casar e constituir família.

Em Elizabeth residem os questionamentos sobre esse modo de formar relações. Ela é uma mulher que indaga a visão da sociedade, que se mantém firme em sua forma de pensar e que, apesar de se apaixonar, não leva em conta a posição social. No entanto, apesar de Elizabeth ser uma mulher de opinião e que reage à imposições, ela também é afetada por questões culturais que a levam, em certo momento, a demonstrar que tem preocupação com as aparências. Isso se vê, por exemplo, quando ela cita o comportamento frívolo de Lydia em busca de um parceiro. O comportamento da irmã descrita como "incorrigível, rebelde, selvagem, barulhenta e temerária", para Lizzy, deveria ser ocultado de todos aqueles que não pertencem à família.

O romance que centraliza a trama e que ocorre entre o casal Elizabeth e Darcy é daqueles que geram nos leitores uma torcida que pode ser tímida ou explícita. Eles nutrem sentimentos um pelo outro, mas criam barreiras para se manterem afastados. Elizabeth tenta se safar do orgulho de Darcy utilizando-se da percepção de outras características que depreciam seu pretendente, como a arrogância e a insolência. Ele, por sua vez, explicita nas ações o preconceito que tem em relação à posição social ocupada pela família da Srta. Bennet. A faísca inicial que notamos que há entre o casal e esse dilema de aproximação e afastamento, rendem uma boa interação entre ambos e cria o clima do ponto central que nos conduz ao longo da história. Ressalte-se que ambos os personagens, no entanto, apresentam também características e ações que contradizem aquilo que um pensa acerca do outro.

"...O ódio passara havia muito, e quase desde então tinha vergonha de ter sentido por ele uma repulsa que merecesse tal nome. O respeito criado pela convicção de suas boas qualidades, embora estas no começo fossem admitidas  a contragosto, tinha por algum tempo deixado de repugnar a seus sentimentos..."


Jane Austen é uma escritora que faz uma construção complexa de seus personagens. Eles são ricos e bem construídos e notamos que suas características descritas são as mesmas que se revelam por meio de seus comportamentos e por meio dos diálogos que travam com outros personagens. Nesse sentido podemos dizer que eles são coerentes com o que a autora diz deles em relação ao modo como eles agem na história. Outro ponto a ser observado é que eles não são construídos com uma visão maniqueísta em que se expressam apenas como visões opostas e sem compatibilidade. Todos reúnem características que podem ser descritas como positivas e outras negativas. Isso torna as criações de Austen bastante críveis.

Outro ponto que podemos destacar são os diálogos. O que pode parecer um simples romance de amor torna-se uma trama carregada de visões e críticas sobre a sociedade inglesa da época, com pano de fundo histórico e reflexões sobre a moral e as convenções sociais. Além de apresentar também as impressões equivocadas que as pessoas formulam umas sobre as outras e que levam a uma sucessão de fatos que vão se sucedendo com julgamentos precipitados. Nesse sentido, poderíamos afirmar que o livro pode ser interpretado e analisado até sob a sociedade atual.

Todos os acontecimentos que acontecem no plano secundário, ou seja, aqueles que não estão pautados em Darcy e Lizzy, corroboram a construção da trama. Os fatos tem ligação total com os assuntos que são tratados na trama central. As camadas secundárias convergem para os pontos que são abordados e que derivam da relação entre o casal de protagonistas.

Orgulho e Preconceito é um livro que não pode faltar na lista de leitura de qualquer um que goste de romance de época, sobretudo pela representatividade que o livro tem entre os títulos publicados pela escritora inglesa.

Sobre a autora:


Jane Austen nasceu em 1775 e faleceu em 1817. Inglesa, a autora desenvolveu a paixão pela escrita e pela leitura desde cedo – seus pais eram ávidos leitores. Ela é considerada a primeira romancista moderna da língua inglesa. Seu estilo único, cheio de humor e ironia, deu vida a diversos romances como Orgulho e Preconceito (1813), Razão e Sensibilidade (1811), Mansfield Park (1814), Emma (1815), A Abadia de Northanger (1817) e Persuasão (1818). 

Ficha Técnica:

Título: Orgulho e Preconceito
Escritora: Jane Austen
Editora: Martin Claret
Edição: 1ª
Ano: 2018
ISBN: 978-85-440-0182-0
Número de Páginas: 421
Assunto: Romance de época


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