Salvando a Mona Lisa - a extraordinária batalha para proteger o Louvre e seus tesouros da invasão nazista foi escrito por Gerri Chanel. O livro foi publicado no Brasil pela Editora Vestígio em 2019. A publicação de 350 páginas conta com tradução de Marcelo Hauck.
Conhecido museu localizado em Paris (França), o Louvre é considerado o museu de maior visitação no mundo. Ali estão obras de renome como Vênus de Milo e o famoso quadro pintado por Leonardo Da Vinci - Mona Lisa. Quem visita o local e vê a tranquilidade com que as obras de artes são expostas pode não imaginar o que aconteceu no passado. Nem sempre elas estiveram em segurança.
Nove dias antes da França declarar guerra à Alemanha, mais precisamente no dia 25 de agosto de 1939, o museu fechou suas portas e um batalhão de voluntários e funcionários deu início a um árduo trabalho de "desmontar, embalar e encaixotar algumas das peças de arte e antiguidades mais preciosas do mundo enquanto providenciavam a maior evacuação de museu da história."
Dias depois os tesouros guardados no Louvre partiram em caminhões para vários castelos no Vale do Loire. Entre tais tesouros estava a Mona Lisa que "saiu no primeiro comboio, acomodada em um estojo de álamo com o interior acolchoado com veludo vermelho, feito sob medida, que em seguida foi cuidadosamente posto em um caixote."
Ao todo foram cinco anos longe do museu, tendo o quadro sido transportado seis vezes no decorrer desse período. Uma tarefa nem tão fácil de ser realizada dado o cenário que o país vivia.
O livro não ficcional, objeto da resenha, conta a história de homens e mulheres que arriscaram o emprego e até mesmo a própria vida para proteger a herança cultural de uma nação.
A obra tem início com o surgimento do museu. No século XII o rei Filipe Augusto da França lutava contra a Inglaterra por um território. Uma semana antes de partir para a guerra, isso em junho de 1190, mandou construir um muro ao norte do Rio Sena. Havia, no entanto, um ponto fraco que poderia ser de grande valia para os inimigos. A saída foi dada cercando o encontro do muro com o rio e criando um fosso. Essa fortaleza recebeu o nome de Louvre - nome que o museu carrega até os tempos atuais.
Avançamos para o período da Primeira Guerra Mundial, em que as obras não estavam diretamente ameaçadas por inimigos, mas havia outros riscos. No início de 1930 a preocupação com uma possível guerra contra a Alemanha já começou a preocupar as autoridades que lidavam com as artes. Desde então, começaram a pensar em ações.
O livro se divide em seis partes que elucidam acontecimentos de acordo com o período. Vamos, portanto, de 1187 a 1938, de 1938 a 1940, de 1940 até 1942, de 1942 a dezembro de 1943, de janeiro até agosto de 1944 e a última parte compreende o período de agosto de 1944 até outubro de 1947.
Na narrativa de Gerri, além de termos relatados os acontecimentos em torno da mudança das obras de arte e toda sorte de meios utilizados para protegê-las das ameaças, temos um relato histórico com a contextualização e a apresentação de fatos reais relativos à guerra, a abordagem dos líderes, os impactos da luta travada entre França e Alemanha - como os estragos provocados na vida dos habitantes de Paris e a escassez de recursos, o que incluía a dificuldade de obtenção de comida. Com a ocupação alemã o acesso aos artigos de primeira necessidade foram prejudicados, tanto pelos danos ocorridos na infraestrutura quanto outros que abalaram os parisienses. Mesmo após o Dia D, com a movimentação feita pelas tropas que iam para o front na Normandia, os rastros de violência ficaram pelo caminho.
Salvando a Monalisa é um profundo trabalho de pesquisa da jornalista Guerri Chanel, o que notamos claramente na maneira minuciosa com que descreve os eventos. Os detalhes, explicações e tudo que há presente no livro nos transporta para o período e enriquece uma história real que é fascinante por inúmeras razões. É como se acompanhássemos um thriller histórico passado na França durante a ocupação alemã. As fotos presentes no livro ajudam no fascínio que a história exerce, permitindo-nos ver a memória daquele tempo. São mais de 70 (setenta) fotografias em preto e branco distribuídas ao longo dos capítulos.
Ficamos tensos com cada ação e com a ansiedade e passos dados para proteger as obras das mãos de Hitler e seu séquito instalado no país.
O museu era conhecido, portanto um alvo fácil para qualquer ataque. E dado o valor das obras não seria difícil pressupor que o interesse de Hitler por elas seria grande. Qualquer roubo ou dano ocasionado faria com que não só a França perdesse, mas também o mundo, posto que trata-se de patrimônio cultural e artístico.
"Na cabeça de Hitler, "origem alemã" incluía não apenas itens criados ou de propriedade de alguém dentro do grande império alemão, mas também aqueles criados com o suposto estilo alemão. E na cabeça dele, entre obras obtidas de forma ilegal ou duvidosa, encontravam-se aquelas transferidas por meio de tratados que terminaram com as guerras napoleônicas e a Primeira Guerra Mundial." Hitler queria, notadamente, as melhores peças do museu e outras mais, providenciando um inventário das obras e dos itens pretendidos. Sua megalomania estendia-se ao campo das artes.
A inteligência e a sagacidade dos curadores que evitaram que as obras caíssem nas mãos dos alvitres foi fundamental, como acompanhamos no texto da jornalista. Curadores como Jacques Jaujard, André Chansom, Gérald van der Kemp, Germain Bazin, Lucie Mazauric, René Huyghe e outros tantos funcionários, foram importante no processo de manejo e nas estratégias empregadas para proteger as obras de arte do Louvre.
A autora não se abstém também de falar sobre os locais em que as obras se mantiveram no período em que ficaram fora do museu e fala ainda sobre o maior número de obras de artes possíveis. As dificuldades em transportar e armazenar eram gritantes. Peças frágeis, grandes demais, pesadas e altamente valiosas careciam de cuidados. Em muitos dos locais os receptores da obra, apesar de não se oporem em recebe-las, criaram obstáculos. Lidar com as intempéries foi outra das necessidades daqueles que se envolveram com o processo de proteção das peças.
Esmerado o trabalho da autora que não só relata, mas clarifica a história. São detalhes que, mesmo lendo sobre a Segunda Guerra Mundial, não são apresentados e que aqui aparecem num trabalho didático, claro, detalhado e rico para leitores ávidos por conhecimento, por apaixonados por história (sobretudo o período das Grandes Guerras) e para amantes da arte.
Sobre a Monalisa:
La Gioconda - Mona Lisa, foi pintada por Leonardo Da Vinci. Ao pintar a obra, Leonardo estava reagindo contra um conceito de espaço no século XV, que, depois de ter sido o foco da investigação científica e estética durante todo o século, estava amarrada a uma classificação rigidamente aristotélica. A moldura não limita mais a figura. O observador está diante de uma janela aberta e a figura, colocada num perfil de três quartos, com as mãos juntas, e o braço da cadeira num plano inclinado. Ainda há movimentação nas pregas da roupa, do tecido, do cabelo. O sorriso é quase imperceptível e toca a curva da boca e os olhos. (Fonte: Enciclopédia dos Museus - Louvre Paris | 1967; pág. 130; Companhia Melhoramentos).
Sobre a autora:
Gerri Chanel é uma jornalista premiada com o Independent Publisher Book Awards for History. Morou na França por cinco anos, onde começou sua pesquisa para Salvando a Mona Lisa. Hoje, divide seu tempo entre Paris e Nova York.
Ficha Técnica:
Título: Salvando a Monalisa
Escritora: Gerri Chanel
Tradutor: Marcelo Hauck
Editora: Vestígio
Ano: 2019
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-54126-31-5
Número de Páginas: 350
Assunto: História
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