Publicado pela Luva Editora em 2018, Vidas Irrisórias, livro do escritor
Jonatan Magella, tem 85 páginas e é uma das publicações que integram o projeto
Incubadora de Sonhos, desenvolvido pela Luva para investir em autores da
baixada fluminense.
Trata-se de um livro de contos que coloca o leitor em contato com
personagens que vivem nas periferias cariocas, mas que se pode ver em quaisquer
periferias por todo o Brasil. Os contos presentes na obra revelam histórias
intrigantes e que expõe facetas humanas. Ora nos assustam, ora nos trazem
reflexões, ora nos perturbam por sabermos que o que ali está contado (embora
seja um texto ficcional) é vivido por muitos e muitos e muitos e muitos brasileiros.
É da noção da irrelevância da vida, sobre amplos aspectos, que surge a
constituição da história de cada personagem que há presente no livro. Quando
notamos que a vida é irrisória tomamos ações diferentes, de acordo com a
personalidade de cada um, ou talvez da formação cultural, que não podemos
negar, nos influencia. Algumas pessoas, ao ter a noção de sua irrelevância agem
com ferocidade, outras seguem de maneira tranquila, reforçando sua
invisibilidade diante dos outros, e há aqueles que tendem a buscar alguma
transformação, por menor que possa parecer (ou de seu íntimo ou dos que estão a
seu redor).
A marginalidade que toma conta do indivíduo, o abuso sexual infantil, a
violência que ronda jovens de dezesseis anos e aterroriza professores, o erro
que leva a mortes e causa uma falsa sensação de justiça, o confronto que parece
inevitável, mas que torna-se um encontro. O som alto que é para divertir, mas
incomoda, o desejo de melhorar de vida, a presença ainda real do analfabetismo.
Todos esses são assuntos que são tratados nos contos de Magella.
Os acontecimentos podem parecer “naturais” (grifo meu) quando devem
despertar em nós indignação: “Morreram
três essa noite...”. O conto do qual esse trecho foi tirado e que leva o
mesmo nome é um exemplo disso. A vida do outro ganha insignificância diante do
desejo cotidiano de poder ir embora mais cedo de um lugar que, era para ser
visto como algo bom. Quer ir embora dali, demonstra algo além do simples fato
de ir embora. De tão corriqueiro que é o acontecimento, a vontade única e
exclusivamente individual se sobrepõe a dor, que mais do que a expressão da dor
individual, demonstra a veemência da violência que toma conta de uma sociedade.
Os temas são contundentes, como o do trabalho escravo fazendo contraponto
com as brincadeiras de crianças. E há ainda a história de um homem que faz
favores para se livrar de remorsos, o que o leva a ver a morte como um alívio,
uma oportunidade de que agora possa viver mais para si.
Percebemos que os personagens que aparecem nos contos tem de lidar com a
insignificância. Ou suas vidas não tem valor ou, para eles, a vida dos outros
não tem valor. Aqui temos um aspecto importante para reflexão do leitor. O fato
de olharem para o outro como insignificantes, por vezes não acontece de forma
premeditada. Essa visão que os humanos tem em relação ao outro, muitas vezes se
dá pelo ambiente no qual está inserido, pela vida rota e pela cultura de uma
sociedade que valoriza o “eu”, a individualidade, o cuidar do próprio umbigo.
No entanto, há que se frisar que a vida irrisória que levam também advém do ambiente,
da condição social e econômica, da cultura e até de aspectos pessoais, traços
próprios da formação da personalidade do indivíduo.
Os contos tem um ar de crônica, pois vemos neles a percepção aguçada de
quem traça fatos cotidianos, que observa gente comum com situações das mais
diversas pelas quais passam. Fatos e sentimentos que permeiam a vida de gente
simples e que revelam o lado demasiadamente humano.
Mesmo quando há uma tinta forte na ficção que nos é contada, Jonatan
Magella consegue transmitir a humanidade de seus personagens, com suas mazelas,
anseios e visões acerca da vida. E também traz ao texto a provocação da
reflexão para o que se vive nas periferias e na sociedade como um todo.
O livro conta ainda com fotos de Gabriel Daras Lourenço. Fotos que
realçam o clima da obra e que causam impacto.
Vidas Irrisórias traz personagens que vivem seu mundo, como todos nós.
Neles estão a insignificância ou o poder de serem quem são. Suas vidas podem
parecer irrisórias para quem não os vê, mas eles demonstram uma vida como a de
muitas pessoas reais. Passam despercebidos pela maioria, como se tivessem
vivendo num mundo paralelo. Suas dores, lamentos, aflições recebem a
indiferença. São irrisórias. Mas também, pelo seu olhar a vida dos outros se
tornam insignificantes. Fica a mensagem. Recomendo a leitura.
Sobre o
autor
Jonatan Magella | Foto: Reprodução |
Jonatan Magella é escritor, roteirista,
dramaturgo e professor de História pós-graduado em relações étnico-raciais.
Publicou a novela Tempo Severo em 2017. Colaborou por anos nos portais Baixada
Fácil e O Melhor da Baixada, como cronista dominical. Venceu Festival de
esquetes FAMA com o melhor texto de dramaturgia. Atualmente ministra oficinas
de escrita criativa no SESC Madureira, integra o Núcleo de Dramaturgia do SESI.
Ficha
Técnica
Título: Vidas Irrisórias
Escritor: Jonatan Magella
Editora: Luva
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
85
ISBN: 978-85-93359-12-2
Ano: 2018
Assunto: Contos brasileiros
Bom dia Eudes,
ResponderExcluirEsse é mais um livro que fico conhecendo aqui, gostei muito da premissa e fiquei bem curioso, gostei do projeto da editora, ótima resenha....abraço.
http://devoradordeletras.blogspot.com
Uma resenha maravihosa,breve vai chegar ao meu País, Parabéns
ResponderExcluirAgradeço pela leitura e resenha, parceiro. Vou linkar no blog. Abraço.
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