Rodrigo Ungaretti Tavares é natural de Bagé (RS).
R. Tavares busca contar histórias repletas de referências ao universo
regionalista, mesmo quando escreve suspense ou terror. É autor do livro
Andarilhos e Noite Escura, além de ter contos publicados na Amazon e em
antologias. O escritor concedeu entrevista ao Tomo Literário e falou sobre a
carreira de escritor, mercado editorial, suas obras e pesquisas para realiza-las,
novos projetos e muito mais.
Tomo
Literário:
Como
foi o seu primeiro contato com a literatura?
R.
Tavares:
Voltar ao meu primeiro contato com a literatura seria (muito provavelmente)
criar uma ficção sobre um determinado e idealizado momento da minha vida.
Tentarei ser o mais sincero possível: fui criado em uma família que lia
bastante, o escritório do meu pai era repleto de prateleiras de livros, o que
pra mim sempre foi mágico. Ao invés de jogos de vídeo game, sempre preferi
criar minhas primeiras fantasias com bonecos dos comandos em ação. Ler foi um
costume herdade, aperfeiçoado em uma boa escola, com incentivo de bons
professores e (graças a Deus) uma infância analógica, sem celulares, Netflix e
desenhos livres. Nosso mundo era criado pela imaginação.
Tomo
Literário:
Quando
e como você decidiu se tornar escritor?
R.
Tavares:
Durante o colégio sempre criei minhas pequenas narrativas, guardo cadernos com
livros inacabados, lembro de romances juvenis que empacaram nos primeiros
capítulos... Tenho outros cadernos com roteiros de filmes que escrevi a mão...
Porém, no ano de 2007 escrevi um conto que pensei consistente... E a história
de um gaúcho chamado Pedro. Lancei aquele conto e vi que era o meu chão. Em
2017 o conto virou o livro Andarilhos.
Tomo
Literário:
O
Andarilho foi inspirado em um conto longo de sua autoria. O que o motivou a
transformar a história num romance?
R.
Tavares:
Talvez desde a primeira versão eu quisesse que fosse uma história longa, porém
– apesar de não admitirmos – os primeiros passos dos escritores são limitados,
pois não conhecemos muitas ferramentas e muitas técnicas, há apenas um
personagem ou uma história que ferve nossas mãos e nos impulsiona na escrita.
Naquela vez, coloquei numa nota do autor que pretendia voltar àqueles
personagens afim de contar a história com mais conhecimento técnico sobre a
escrita de ficção.
Tomo
Literário: Noite Escura é um dos seus
livros publicados. Como surgiu a ideia da história?
R.
Tavares:
Buscando essa melhora que falei acima, no ano de 2008 busquei minha primeira
especialização enquanto escritor. Foi um ano rico de aprendizado com uma longa
oficina de escrita com Alcy Cheuiche. Ao final, queria experimentar o que
aprendera e contar uma história policial, meio faroeste, mas que se passasse
mais ou menos onde nasci. Li Cormac McCarthy e seu Onde os velhos não tem vez e
vi que essa temática poderia ser adaptada ao interior do Brasil. Foi nesse
momento que encarei o tema do regional como um objetivo a ser perseguido
durante alguma fase da minha vida, precisamos registrar esses espaços, para não
acharem que só existe vida inteligente nas capitais do Brasil.
Tomo
Literário: Como foi o processo de
pesquisa para construção da trama e dos personagens?
R.
Tavares:
Em Noite Escura a criação foi mais livre, o livro se passa em 2008 e se baseou
em observações, algumas muito superficiais – das quais talvez se escrevesse
hoje mudaria os termos – das pessoas, dos lugares e dos temas em foco.
Já o Andarilhos contou com uma pesquisa mais
a fundo sobre a cultura regional do período histórico retratado, mas de
qualquer forma sempre penso nessas coisas como ingredientes a dar cores e
cheiros para história – o que me preocupa mesmo são as personagens e suas
questões essenciais.
Tomo
Literário:
Você
tem ainda os e-books A Tropeada: Contos Regionais e Contos Sangrentos. Como é
transitar em dois gêneros literários tão diferentes? E se é possível escolher
um, qual dos gêneros mais o agrada?
R.
Tavares:
Eu não sou um bom contista, infelizmente. Mas escrevo conto a fim de
experimentar e aprender. Por isso, me dou liberdade para experimentar mais nas
temáticas que vão além d universo regional brasileiro.
Por vocação, sou escritor de narrativas
longas, sejam romances ou novelas, que também são meus favoritos.
Tomo
Literário:
Como
você vê atualmente o mercado literário para os escritores brasileiros?
R.
Tavares:
Eu vejo o mercado com certo otimismo, apesar das incertezas momentâneas.
Estamos bem no momento de uma das transições mais importantes dos últimos
tempos, onde escritores estão contestando o mercado, a importância ou não de um
selo tradicional, a divulgação como meio de aparecer sendo independente – e
estando longe dos assuntos que são premiados, que abordam os lançamentos de
apenas duas ou três editoras. O que importa é não brigar com o momento, mas
produzir e descobrir seu público. Dialogar com eles e ver a plataforma que eles
consomem. Apesar da crise (odeio essa frase), temos muita gente querendo ler –
não podemos deixar que eles escapem.
Tomo
Literário:
De
modo geral o que te inspira a escrever?
R.
Tavares:
Talvez eu seja um escritor mais obreiro do que um inspirado. Digo isso porque a
inspiração romântica não encontra muito espaço na rotina de um escritor
profissional. Se esse momento de inspiração mágica aparece, ele me encontra com
as mãos nas teclas escrevendo e colabora muito com o que esta saindo. Mas o que
colabora com minha escrita é conversar com pessoas, observa-las, entender seus
pontos de vista, não tentar impor os meus, e ter um objetivo de vida que é
perseverar na carreira literária – isso me motiva a continuar os estudos e as
escritas.
Tomo Literário: Você está preparando algum novo
projeto literário? Pode nos adiantar alguma informação?
R.
Tavares:
Estou escrevendo um novo romance, o cenário é contemporâneo, se passa no ano de
2016, e continua no universo regional. Posso adiantar que se passa na mesma cidade
ficcional que o Noite Escura, apesar de ser uma história totalmente
independente e de ter uma outra pegada: enquanto o Noite era uma espécie de
policial, o novo é um drama familiar.
Tomo
Literário:
Quais
são os autores que você admira ou que de alguma forma influenciaram o seu
trabalho como escritor?
R.
Tavares:
São tantos... Mas um norte seria sempre Érico Veríssimo, que transitou por
diversas temáticas com maestria e lucidez. Dos contemporâneos, cito Michel
Laub, Daniel Galera, Carol Bensimon, Leticia Wierzshowski – são escritores com
identidades bem particulares e que me emocionam em todas as suas linhas.
Tomo
Literário:
Que
livros, de quaisquer gêneros, você recomendaria aos leitores? Está lendo algum
atualmente?
R.
Tavares:
Indico Tupinilândia do Samir Machado de Machado, pela inventividade e por
trazer a reflexão sobre o saudosismo dos anos oitenta e do esquisitíssimo
saudosismo da ditadura militar que está acontecendo no Brasil.
Indico toda a saga O tempo e o vento do Érico
Veríssimo, pois se trata de uma aula de escrita.
Estou lendo De espaços abandonados, o novo da
Luisa Geisler e é um livraço.
Tomo
Literário:
Gostaria
de deixar algum comentário para os leitores do blog?
R.
Tavares:
Deixo meu muito obrigado a todos que dedicaram seu tempo a acompanhar nossa
conversa e recomendo que leiam os nacionais! Tem muito livro bom por aqui, de
todos os gêneros e nas mais diversas editoras. É sempre bom olhar um pouco para
fora da caixa.
Conheça
os livros do autor:
Andarilhos
“O Sertão é o Mundo”, disse,
certa vez, Guimarães Rosa. O mesmo poderíamos dizer sobre o Pampa, esta espécie
de sertão meridional que baralha fronteiras e entremescla muitas pátrias. É no
vasto e inesgotável, rico e melancólico mundo pampiano que transitam os
personagens de R. Tavares: Pedro Guarany, changador marcado por uma antiga
tragédia; João Fôia, lacônico homem cuja real personalidade é um mistério; e o
francês Alphonse Saint Dominguet, cujo olhar forasteiro revela a estranheza, os
arcaísmos e a alma profunda destes rincões à margem do mundo.
Esses três andarilhos se
reúnem em uma improvável comitiva de viagem, passando por cenários pitorescos,
enfrentando ameaças e, principalmente, o passado - sempre à espreita (como um
tigre nas matas) - pronto para cobrar seus tributos.
Trata-se de uma história que
envolve temas universais, como o amor, a perda, amizade e (quem sabe) a
redenção, e que apresenta grandes e verossímeis personagens - que criam empatia
logo nos primeiros traços.
Noite Escura
A história de um assassino
profissional e de uma testemunha ocular. Um pulp fiction brasileiro e regional.
Amei conhecer esse autor :)
ResponderExcluirhttp://submersa-em-palavras.blogspot.com.br/