Kathia Brienza nasceu em Santos, São Paulo. É casada e tem
dois filhos. Mestre em Letras e em Medicina Veterinária, trabalha como
funcionária pública no Ministério da Agricultura. Tem dois livros de contos
solo publicados, além de um romance escrito em parceria e participação em várias
antologias. A escritora falou ao Tomo Literário sobre sua obra, processo de
escrita, novo projeto e muito mais. Confira:
Tomo
Literário: Como foi o seu primeiro
contato com a literatura? E como se deu a escolha pela formação de Mestre em
Literatura?
Kathia
Brienza:
Eu sempre fui uma criança muito sozinha: filha única, família pequena. Então,
eu brincava sozinha e procurava atividades que pudesse fazer sem ser em grupo.
Assim, comecei a passar o tempo lendo. No início eram as “revistinhas” (gibis).
Depois, livros infantis. No meu aniversário de doze anos, uma vizinha me deu o
livro Mulherzinhas, de Louisa May
Alcott. Além de ser o primeiro livro de adultos que eu lia, havia uma
personagem que queria ser escritora e me identifiquei demais com ela. E não
fiquei mais sem livros por perto, desde então...
Com relação ao Mestrado na área de
Literatura, foi uma escolha madura, muito tempo depois. Quando precisei fazer
minha escolha profissional, decidi fazer Medicina Veterinária. Naquela época eu
sabia que minha vocação era para a área de Letras, mas isso representava
continuar morando com meus pais, na minha cidade natal (Santos) e, eu queria
ter mais liberdade, pretendia morar sozinha, trabalhar em uma fazenda. Então,
fiz a escolha racional pela Veterinária (me formei em 1986). Anos depois, eu já
estava casada, era professora universitária, na UNIMAR – Universidade de
Marília. Então, resolvi reviver minha paixão e ingressei no curso de Letras: eu
era professora de dia e aluna à noite, na mesma Universidade. Pretendendo atuar
na área, fui fazer o Mestrado em Literatura e Vida Social (fui a primeira aluna
da UNIMAR a entrar na Pós-Graduação da UNESP de Assis). Infelizmente, não
consegui executar todos os meus planos. Mas, ainda pretendo fazer o doutorado e
lecionar Literatura, um dia.
Tomo Literário: Quando e como você decidiu
ser escritora?
Kathia
Brienza:
Como eu disse antes, acho que a primeira faísca foi por causa da personagem Jô,
de Mulherzinhas (que, na adaptação
para o cinema, recebeu o nome de Adoráveis
Mulheres). Mas, naquela época, eu não podia encarar ser escritora como uma
profissão. Então, fiz faculdade, comecei a trabalhar. Sempre escrevi, mas só
para mim. Durante o período em que fui professora universitária, precisei escrever
artigos científicos e tinha facilidade nisso, mas escrever ficção é bem
diferente. Decidi, então frequentar uma oficina literária, mas na época, não
encontrei nenhuma em Marília, onde eu morava. Algum tempo depois, tive umas
aulas pela internet. Mas, só depois de muitos anos e muito treino consegui
publicar meu primeiro conto, em 2007.
Tomo
Literário: Não é com vinagre que se
apanham moscas é sua segunda coletânea e a obra traz a vida de personagens
bastante distintos. Como surgiu a ideia da obra? Os contos foram feitos
separadamente e depois unidos ou você os criou para a coletânea?
Kathia
Brienza:
Os contos foram feitos separadamente. Na minha primeira coletânea, Contos de Maldição e Desejo, reuni os
contos de literatura fantástica. Neste Não
é com vinagre que se apanham moscas, os contos têm temáticas mais
realistas.
Tomo
Literário: Quanto tempo levou o processo
de escrita até a publicação. E qual foi o maior desafio?
Kathia
Brienza:
O processo de seleção, revisão, diagramação e publicação até que foi rápido,
pois este livro foi publicado de forma independente. Mas, nem tenho como te
dizer quanto tempo levou o processo de escrita... O conto mais antigo da
coletânea, “Crianças Azuis”, foi um dos primeiros que escrevi, ainda em
Marília, em 1997 ou 1998. Já “O Show da Vida” foi escrito em 2015. Acho que o
maior desafio é acreditar que o livro está pronto e que os leitores podem
gostar dele. A insegurança é sempre o maior obstáculo.
Tomo
Literário: Você também tem participações
em antologias. Costuma adotar algum ritual ou processo para a escrita?
Kathia
Brienza:
Cada autor tem seu jeito próprio, não é Eudes? Alguns colocam músicas que
tenham a ver com o tema do conto, outros sentam em uma praça para se inspirar
olhando as pessoas que passam. Eu, na verdade, não tenho nenhum ritual. Acho
que sempre faço um pouco de pesquisa, durante a escrita. Como sou uma pessoa
curiosa, gosto quando aprendo alguma coisa com um conto que estou escrevendo.
Então, a pesquisa é sempre uma parte muito agradável e presente para mim.
Tomo Literário: Olhos de Fogo é um livro
escrito em parceria com Helena Gomes. Como é escrever a quatro mãos?
Kathia
Brienza:
Helena foi uma das minhas professoras em oficinas literárias. Sempre me
incentivou muito e, para mim, foi uma honra ser convidada para ser co-autora em
um romance dela. Ela tem muito mais experiência do que eu e tem um método de
trabalho diferente, também. Para mim, foi uma parceria muito gratificante. Acho
que nos entendemos bem, conseguimos trabalhar sem maiores problemas e, na minha
opinião, o resultado foi muito bom.
Tomo
Literário: Dos contos que você publicou
qual deles ou quais representam mais o seu estilo de escrita? Destacaria algum?
Kathia
Brienza:
Todos têm a ver comigo. Acho que uma característica do meu jeito de escrever é
que sou direta, uso um vocabulário simples, tento não dificultar a leitura. Mas,
não sei se já tenho um estilo de escrita (a tal voz própria do escritor, que é
o que a gente busca). Ainda me considero uma iniciante, apesar da idade... Mas,
tenho os meus preferidos. Na primeira coletânea, gosto muito de “Desejo” e,
nesta segunda, “Sobre Meninos e Lobos” é o meu predileto.
Tomo
Literário: De modo geral o que te inspira
a escrever?
Kathia
Brienza:
Acho que é o desafio. Conseguir fazer um texto bom, encontrar a palavra certa,
transmitir um sentimento. Por isso sempre que posso peço um retorno para os
leitores. Quero saber o que eles gostaram e o que não foi bom. É muito
importante para mim ver se meu objetivo foi alcançado ou não.
Tomo
Literário: Você está trabalhando em algum
novo projeto literário? Pode nos adiantar alguma informação?
Kathia
Brienza:
Tenho um projeto de romance histórico, iniciado há mais ou menos dez anos, e
gostaria muito de concluí-lo ainda em 2018. Dizem que pouco planejamento atrapalha
a escrita, mas que planejar demais também pode prejudicar. No caso deste meu
projeto, acho que tenho tudo tão planejado que às vezes fico meio “travada” e
não consigo terminar o livro...
Tomo
Literário: Quais são os escritores que
você admira ou que exerceram alguma influência sobre o seu trabalho como
escritora?
Kathia
Brienza:
Tanta gente! Não consigo identificar uma influência direta no meu trabalho, mas
existem vários autores que admiro. Na adolescência, meus preferidos eram José
Mauro de Vasconcelos, Jorge Amado e Agatha Christie. Depois li muito Maurice
Druon, Noah Gordon e Lygia Fagundes Telles. Mais recentemente, me encantei com
Leonardo Padura, P.D. James e William Faulkner. Mas, poderia citar tantos
outros nomes: de Fernando Pessoa e Florbela Espanca aos romances policiais que
J.K. Rowling escreveu sob o pseudônimo Robert Galbraith, passando por Edgar
Allan Poe, Eça de Queiroz, Patricia Highsmith e Stephen King.
Kathia Brienza | Foto: Reprodução |
Tomo
Literário: Que livros, de quais gêneros,
você recomenda aos leitores? De que forma esses livros te tocam?
Kathia
Brienza:
Acho que o importante é ler! Ler te ajuda a pensar melhor e a escrever melhor.
E um livro é sempre uma excelente companhia. Eu sempre fui uma leitora
intuitiva. Às vezes escolhia o livro pela capa ou pela sinopse. Meus pais não
tinham uma grande relação com a literatura. Mas, eu tive uma vizinha que tinha
uma pequena biblioteca e que me emprestava seus livros (e meu amor por Jorge
Amado, por exemplo, veio daí, porque ela gostava dele). Não tive uma orientação,
entende? Nos anos 1980, por exemplo, a
Editora Abril lançou uma coleção com grandes clássicos e eu os comprava, na
banca de jornais, porque eram baratos. E, assim, ainda bem jovem, acabei lendo
Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Voltaire, Truman Capote, sem nem saber direito a
importância deles.
Acho que a escolha do livro tem a ver com o
teu momento. O que eu quero ler hoje? Uma coletânea de contos ou um romance?
Uma leitura mais leve ou mais complexa? Quero rir ou chorar? Ou quero ser
surpreendida?
Se o leitor gosta de romance histórico, eu
recomendo O Rei de Ferro, de Maurice
Druon, e O Físico, de Noah Gordon. Se quiser ler bons contos, Histórias extraordinárias, de Edgar
Allan Poe, ou uma coletânea como Os cem
melhores contos brasileiros do século, organizada por Italo Moriconi. Um livro
um pouco mais complexo, com diferentes vozes narrativas, O som e a fúria, de William Faulkner. Todos me tocaram por serem
bem escritos e envolventes.
Tomo
Literário: Deseja deixar algum comentário
para os leitores?
Kathia
Brienza:
Leiam, sempre. Sem preconceitos.
Conheça os livros da autora:
Contos (livros solo):
Contos de Maldição e Desejo – Escrita Fina
Edições – 2014
Disponível na Saraiva.
Não é Com Vinagre que se Apanham Moscas –
All Print Editora – 2016
Disponível na All Print Editora e na Saraiva.
Antologias:
O livro negro dos vampiros –
Andross Editora – 2007
Anno Domini – manuscritos
medievais – Andross Editora – 2008
Dimensões.BR – contos de
literatura fantástica no Brasil – Andross Editora – 2009
Tratado secreto de magia –
vol.I – Andross Editora – 2010
Poe
200 anos – contos inspirados em Edgar Allan Poe – All Print Editora
– 2010
Tratado secreto de magia –
Vol. II – Andross Editora – 2011
Caminhos
Fantásticos – Editora Jambô – 2011
Boas Histórias – Publit Editora – 2011
Nevermore – contos
inspirados em Edgar Allan Poe – Editora Estronho – 2013
Mr. Hyde Homem Monstro – All
Print Editora – 2014
Romance:
Olhos de Fogo – Escrita Fina
Edições – 2010 (escrito em parceria com a autora Helena Gomes)
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