Umami: A Receita da Vingança, do escritor
Alan Santiago, foi publicado pela Editora PenDragon em 2017 (176 páginas). Um
pai deixa para sua filha um diário “ou
livro, caso queira chamá-lo assim”. Livro este que ela deve ter acesso ao
completar dezoito anos de idade.
No primeiro capítulo o narrador explica sua
decisão de escrever o diário e fala do cerne da trama que é a sua sede de
vingança, interpretado por ele como “único
jeito de podermos dormir em paz”. Cita, inclusive, o filósofo grego Aristóteles,
que embasa sua visão de que o sentimento de cólera diante de alguém que lhe
tenha causado mal é justificável.
Haroldo Manuel é o nome do protagonista.
Agora chamado de Harold Agate, em função de seu trabalho como chef de cozinha,
é ele quem fez o diário, portanto narra em primeira pessoa. Quando mais jovem ele foi vítima de bullying
de seus pares, estudantes da escola de culinária. Sofria com o distanciamento,
os apelidos que lhe atribuíam pelo seu peso e sua aparência, pelas armações que
faziam com o intuito de prejudicá-lo, por ser usado como exemplo de como não se
vestir e como não se comportar. Essas marcas continuavam presentes em Harold,
tanto psicologicamente falando, quanto fisicamente, pois no seu corpo carrega
marcas de cortes nas pernas e pés, originadas quando começou a se flagelar.
Teve toda a sua raiva retomada quando viu uma conversa entre os companheiros de
escola no Facebook.
“Depois
de ler e reler tudo aquilo, eu ficava cada vez mais irritado e quase fiquei
maluco...”
As redes sociais, em que as pessoas são capazes
de gerar comentários raivosos e cheios de ódio, foi o gatilho emocional para a ira e a desestabilização de
Harold. Depois de ter contato com aquela conversa na internet, ele traça planos
de se vingar daqueles que mais mal lhe fizeram. Escolhe quatro alvos que o
atormentaram e parte para a execução de seus crimes.
Fica aquela máxima de que “quem vê cara não vê coração”. O
personagem serial-killer é um homem bem sucedido, que foi casado, tem uma
filha, goza de estabilidade financeira, no entanto, tem um perfil psicológico
controverso. Harold é capaz de demonstrar preocupação por sua filha, a quem
destina o diário, e não demonstra nenhuma empatia - característica de
psicopatas - por aqueles que de algum jeito o fizeram sofrer. Demonstra-se
frio, sem remorso, ardiloso, sedutor. À medida que vai realizando seus crimes,
o “sabor” da vingança vai aumentando. John Douglas, especialista em serial
killers americano, diz em seu livro Mindhunter que os psicopatas vão aprendendo
com os crimes que cometem. É o caso do protagonista de Umami. A cada crime aprende
a lidar com os percalços e como melhor atacar seu alvo, o que intensifica seu
prazer.
Harold arquiteta seus planos, mas o acaso
também contribui para algumas situações. Na mente doentia, com ações friamente
calculadas, tudo parece fácil. Vê brechas na vaidade das pessoas, conta com a
incompetência da polícia e age, às vezes, por oportunidade. De modo geral, notamos
a sua psicopatia pela maneira como opera e pela forma que conta sua história.
Envaidece-se do sabor que a vingança traz. É, em certo sentido, prepotente por
conseguir desvencilhar-se das enrascadas.
Alan Santiago tem uma narrativa despretensiosa,
em tom coloquial, que dá ao livro o sentido de diário descrito pelo
protagonista. O livro é atual, coloca em cena o uso das redes sócias e aplicativos
de mensagem e o comportamento das pessoas diante de tais ferramentas. No que
refere-se a ambientação, a maior parte do livro se passa em Brasília, com referências
a lugares reais, o que conjugado com os acontecimentos, torna as cenas críveis
e próximas ao leitor (ainda que não conheçam a capital do país).
O modo como o personagem descreve suas ações
traz consigo uma justificativa para os atos. Ele faz a sua própria defesa,
destaca seus “talentos”, se mostra ressentido com os seus alvos, deixa
transparecer ao leitor o seu desajuste e sua forma vil de agir. Isso é mantido
durante todo o livro, sustenta, pois, a história que nos é contada. Sua frieza
é tamanha que quatro anos depois de cometer crimes, ele escreve mais um trecho
do diário, que o leitor acompanhará no posfácio da obra.
Xícaras de ressentimento, doses de achaques,
uma colher de gatilho emocional, um copo de ódio, uma forma untada de psicopatia,
muitos quilos de frieza. Junte tudo isso, polvilhe com uma narrativa fluída e
misture. Esta aí Umami: A Receita da Vingança, um bom livro policial para o
leitor se deliciar.
Foto: Reprodução |
Sobre o
autor
Alan Santiago nasceu em Brasília e é formado
em jornalismo e publicidade. Trabalhou na área de comunicação em agências por
quase uma década e participou de grandes projetos voltados para eventos
esportivos e de turismo pelo mundo. Apaixonado por esportes, por história e por
pesquisa, hoje é freelancer de sites esportivos e da área de comunicação de
empresa têxtil, além de preparar novos livros.
Ficha
Técnica
Título: Umami A Receita da
Vingança
Escritor: Alan Santiago
Editora: PenDragon
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-69782-76-6
Número
de Páginas:
176
Ano: 2017
Assunto: Literatura
brasileira
Tão bom acordar domingo de manhã e ler uma review do seu livro :). Obrigado pelas palavras e pela força de sempre. Como sempre falo, as críticas são sempre bem-vindas, positivas ou negativas, mas não há como negar que as positivas acalentam o coração :)
ResponderExcluirAcabei de ler Mindhunter, muito bom. Já tinha lido outros livros dele. Realmente, os autores são base para os meus livros.