De autoria do escritor Aliel Paione, Sol e
Sonhos em Copacabana foi publicado pela Editora Pandorga em 2017 (1ª edição,
384 páginas).
Jean-Jacque Chermont Vernier chegou ao Rio de
Janeiro em meados de 1900. O diplomata chegou para atuar na cidade como
consultor econômico junto à embaixada francesa. A carreira diplomática era um
sonho de sua mãe, a Condessa de Chermont. Jean-Jacques sempre fora um boêmio e,
apesar de jovem, também era bastante crítico ao sistema em que fora educado.
Gostava, portanto, de seguir seus anseios libertários e transgredindo limites.
O Rio de Janeiro, para ele, era um lugar propício.
Em sua chegada, começava o Governo de Campos Sales,
que iniciara-se no regime republicano, instaurado em 1889. Jean-Jacques, aos
poucos, fora se familiarizando com a vida carioca, os hábitos brasileiros, o
idioma e a temperatura elevada do Rio de Janeiro.
Certa vez, Euzébio, que o conduzia pela
cidade e que se tornara um grande amigo, falou a ele sobre um tal cabaré, chamado Mère Louise. E para lá
seguiram com o propósito de que Jean conhecesse o local. O diplomata olhou o
imóvel pelo lado externo e quando partira avistou uma morena na janela. A visão
fora rápida, “apenas o suficiente para
preencher a medida exata de seu desejo”.
Verônica, a mulher que trabalhava no cabaré, “seria capaz de levar um homem ao céu ou ao
inferno com a mesma facilidade com que as folhas secas, caída sobre o chão, são
sopradas pelo vento”.
Jean-Jacques, o protagonista da obra, é
tomado por um sentimento forte e quer a todo custo aproximar-se daquela bela morena.
A moça, que é meretriz no cabaré, mantém um relacionamento com o Senador José
Fernandes Alves de Mendonça. Homem influente pelo seu cargo e igualmente bajulado
em função da posição que ocupa, ele carrega uma maleta preta quando vai ao
cabaré. O homem trabalhava diretamente com o ministro da Fazenda, Joaquim
Murtinho.
A política econômica de Campos Sales e o
momento histórico que vivia o país, serve de pano de fundo para a trama e o
personagem Jean-Jacques, atuando na esfera da economia, vê e sabe como agem os
homens do poder e se compraz das populações marginalizadas, “mantidas no atraso e tão distantes de
adquirirem senso crítico capaz de libertá-las”. A politica dá a Aliel a
dosagem histórica (fatos, locais ou personagens reais) que se misturam com a
criação ficcional.
Naquela época a economia girava em torno do
café (a política do café com leite), ocorrera ainda a eleição de Marechal
Hermes da Fonseca, bem como o surgimento dos primeiros carros no Brasil - que
também aparece na trama - e a Bèlle Epoque francesa.
Na história contada no livro há uma passagem
de tempo. O leitor então começa a saber sobre a vida de Jean-Jacques, de
Verônica, do Senador Mendonça e de Henriette (chamada de Riete). Num dado
momento a história faz uma regressão temporal a partir do ponto para a qual
salta e volta abordando o que acontecera no lapso de tempo decorrido.
Aliel Paione nos surpreende com reviravoltas
e fatos que vão se desnudando. Relações são desfeitas, outras se fazem, segredos
vêm à tona e há um certo suspense, que surge a partir de um crime que acontece
na trama, ocorrido em Ilhéus - Bahia. É na segunda metade do livro que a
história se desenrola mais freneticamente e traz inúmeros acontecimentos que
deixam o leitor preso a trama.
Sol e Sonhos em Copacabana trata de um romance,
aborda os conchavos e armações da política, faz crítica sobre a visão de ganância
de homens que querem mais e mais dinheiro, critica também o cinismo político e a
exaltação de quem tem poder, mesmo que demonstre-se uma pessoa com ações
condenáveis na vida privada. O dinheiro no centro das relações também é
apresentado na trama e a movimenta bastante, provocando reações em dados
personagens.
“Mendonça,
desde que a conhecera, tentara inutilmente comprar o seu amor e, com o tempo, o
dinheiro tornara-se o único vínculo entre eles...”
O autor faz uma análise crítica sobre
politica e economia da época, período da república velha, entremeando com o
romance ficcional. Por isso, quando falamos sobre a realidade se misturar com a
ficção, podemos citar as questões políticas que são apresentadas, os fatos
históricos mencionados e outros, como o fato de que o cabaré Mère Louise, ambiente
em que Verônica trabalhou, existiu naquela época e no mesmo lugar descrito no
livro. Além disso, Joaquim Murtinho (Ministro da Fazenda) que é citado no
livro, realmente foi ministro de Campos Sales.
Trechos concernentes a tais críticas parecem
uma alusão ao presente, o que suscita a reflexão do leitor sobre a
contemporaneidade e o panorama político e econômico. O capitalismo e o modo
inescrupuloso dos políticos também ganham críticas na obra, o que se revela por
meio dos personagens e em descrições textuais.
A narrativa de Aliel Paione é primorosa e
garante a fluidez da história. A ambientação está em conformidade com o período
na qual a história se passa e os personagens são bem delineados, com mudanças
comportamentais que dizem muito sobre eles. Tudo se desenrola de maneira que
prenda a atenção do leitor do início ao fim.
Ressalto a construção dos personagens, posto
que por meio deles, além de, notadamente, observarmos as críticas feitas ao
momento histórico, podemos notar ainda suas transformações e sentirmo-nos
ludibriados por eles. São demasiadamente humanos, portanto, sofrem mudanças de
acordo com o tempo.
Sol e Sonhos em Copacabana é um ótimo livro!
Foto: Reprodução |
Sobre o
autor
Aliel Paione nasceu em Varginha (MG). É engenheiro,
mestre em Ciências Técnicas Nucleares pela UFMG, onde trabalho no departamento.
Atualmente é professor de Física na PUC. Porém, são atividades secundárias
perante o seu amor e vocação literários.
Ficha Técnica
Título:
Sol
e Sonhos em Copacabana
Escritor: Aliel Paione
Editora: Pandorga
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-8442-221-0
Número
de Páginas:
384
Ano: 2017
Assunto: Romance brasileiro
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