Entrevista: Maria Fernanda Elias Maglio - Tomo Literário

Entrevista: Maria Fernanda Elias Maglio

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Maria Fernanda dos Santos Elias Maglio é escritora e defensora pública. Foi vencedora do Prêmio Jabuti 2018 na categoria contos com o livro “Enfim, imperatriz”. Ela também foi finalista do Prêmio Sesc de Literatura e Prêmio Oceanos. Venceu o prêmio Alphosuns de Guimaraens de Poesia, da Biblioteca Nacional.

A escritora falou ao Tomo Literário sobre sua trajetória na literatura, os prêmios que concorreu, seu processo de escrita, novos projetos e muito mais.

Confira a entrevista.

Tomo Literário: Para começarmos conte-nos como foi a sua trajetória até a publicação do seu primeiro livro?

Maria Fernanda Elias Maglio: Minha trajetória literária começou tarde, aos trinta e três anos, quando eu já era defensora pública e mãe de duas crianças. Antes disso, minha relação com a literatura era intensa e íntima, mas somente como leitora. O ingresso na escrita foi tardio, mas avassalador. Veio como um rompante. Sabia que tinha demorado para começar a escrever, mas que, a partir de então, escreveria para sempre.

Tomo Literário: Seu livro “Enfim, imperatriz” foi vencedor do Prêmio Jabuti de 2018, na categoria Contos. Como foi receber a principal premiação do país?

Maria Fernanda Elias Maglio: Foi incrível, claro. Surpreendente, uma alegria absurda. Mas sempre digo que ganhar um prêmio literário não torna o livro melhor do que ele é. E é essencial que o escritor não se esqueça disso. Que não se sinta um escritor melhor porque ganhou um prêmio. Nesse aspecto, os prêmios podem ser, inclusive, uma armadilha, podem matar a literatura, fazer com que o escritor escreva sob a sombra da premiação ou queira reproduzir a fórmula que deu ensejo ao prêmio. Literatura é risco, é dúvida. Não está no campo da certeza, da segurança. Mas é inegável o valor dos prêmios, principalmente no sentido de dar visibilidade ao escritor. O prêmio alcança leitores, leva o livro para lugares onde ele não chegaria.

Tomo Literário: E como foi pensar nesse Brasil com personagens tridimensionais e que passam pelo sertão e pela cidade urbana?

Maria Fernanda Elias Maglio: Acho que não penso nos personagens, a não ser quando eles já estão prontos no papel. Minha construção de personagens se dá pela própria linguagem. Mas depois de criados, gosto sim de pensar neles, de refletir sobre a carnadura de cada um, em que medida e por que se parecem reais, gente de verdade, com complexidades e contradições. Acho que acabo criando personagens das camadas mais desfavorecidas da sociedade. Não é algo que eu intencione, que eu busque, mas é o que acontece. De uma maneira muito orgânica é para essas pessoas que meu olhar se volta ao fazer literatura.

Tomo Literário: Você também foi finalista dos prêmios Candango e Oceanos. Os prêmios literários são um caminho importante para que os escritores consigam visibilidade para sua produção?

Maria Fernanda Elias Maglio: A maior função dos prêmios não é, como já disse, chancelar a qualidade da obra, mas sim a visibilidade. Um prêmio rompe barreiras, pula etapas, acessa leitores. Esse é o grande mérito dos prêmios.


Tomo Literário: Você publicou o livro “Você me espera para morrer?” pela Editora Patuá. Como surgiu a ideia desse livro?

Maria Fernanda Elias Maglio: Geralmente, depois e terminar um conto, eu encerro a história internamente, paro de pensar nos personagens. Não foi assim com o último conto do meu primeiro livro. A história, em especial a personagem principal, Ilana, não me abandonou. Por isso escrevi o romance, que é o desdobramento do conto “Cartas à irmã”, que está no livro “Enfim, imperatriz”.
 
Tomo Literário: Você escreve contos, poemas, romances. Como é o seu processo de escrita? Você deixa fluir o texto ou vai organizando com roteiros, fichas de personagens e outros recursos?

Maria Fernanda Elias Maglio: Meu processo de escrita é fluído e orgânico, sem quase nenhuma estrutura prévia. Escrevo a partir da própria palavra. No meu processo criativo, a história é submetida à linguagem e não o contrário. Não escolho uma história e decido como vou contá-la. Quem escolhe a história é a própria linguagem. Palavra dando mão para palavra e a narrativa nasce daí.

Tomo Literário: Para você o que é escrever ficção?

Maria Fernanda Elias Maglio: É criar um universo que poderia ser, mas não é. É imitar o mundo, mas também subverter o mundo. O que é factível e o que não é. O que é verossímil e o que não é. Não há limites para a ficção. Cada livro obedece à suas próprias regras.

Tomo Literário: Quais são os escritores ou escritoras que, de alguma forma, te influenciaram na sua jornada como escritora?

Maria Fernanda Elias Maglio: Nossa, muitos. Em especial Guimarães Rosa, Gabriel García Márquez, Lygia Fagundes Telles. Poderia citar mais, vou ficar nesses.

Tomo Literário: Quais são os livros que você recomendaria aos leitores do clube e do site?

Maria Fernanda Elias Maglio: Literatura brasileira contemporânea em geral. Tem muita coisa boa sendo feita.

Tomo Literário: Como escritora, como você tem percebido a literatura brasileira? Estamos num bom momento para que autoras e autores brasileiros sejam mais reconhecidos no país?

Maria Fernanda Elias Maglio: Estamos em um excelente momento. E isso em especial graças a todas as portas que foram abertas à literatura brasileira pelo Itamar Vieira Júnior. O Itamar é um grande escritor, e o sucesso que ele fez e faz internacionalmente, mudou o olhar do mundo para a literatura brasileira. E isso é fantástico.

Tomo Literário: Você atua na defensoria pública. Isso de alguma forma se reflete na construção de suas personagens?

Maria Fernanda Elias Maglio: Acho que reflete de todas as formas. Não intencional, não é que eu pense nisso na hora de escrever. Mas acho que ser defensora pública define a minha maneira de estar no mundo. E isso inclusive como escritora. Crio os personagens a partir de quem eu sou. E dentre outras tantas coisas, sou defensora pública.

Tomo Literário: O que te move a escrever?

Maria Fernanda Elias Maglio: Não escrevo por nenhum motivo específico. Escrevo porque por que quero, às vezes por que não quero. Escrevo para não enlouquecer e também para enlouquecer. Escrevo por que sim.

Tomo Literário: Você escolhe os temas que vai tratar nas suas obras ou eles é que acabam te escolhendo?

Maria Fernanda Elias Maglio: Definitivamente não escolho os temas. Eles aparecem e me perseguem. Sem que eu perceba, estou sempre escrevendo sobre as mesmas coisas. Talvez isso ocorra com todo escritor e escritora, ser assombrado pelos mesmos assuntos.

Tomo Literário: Tem algum projeto novo vindo por aí? Pode nos contar um pouco sobre eles?

Maria Fernanda Elias Maglio: Sim, estou escrevendo um novo romance. Uma história bem maluca, com diversas vozes narrativas e tempos diferentes, um toque de mistério, de crime, de física quântica e de realismo fantástico. Vamos ver no que vai dar.

Tomo Literário: Quer deixar algum comentário sobre algum assunto que não abordamos ou algum recado para os leitores?

Maria Fernanda Elias Maglio: O recado é para que valorizem a literatura brasileira, leiam a literatura brasileira contemporânea. É claro que devemos ler os clássicos, sempre. Mas é importante conhecer também o que está sendo feito agora, a literatura do nosso tempo, os livros que serão clássicos um dia, quando a passagem do tempo os eternizar

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