Museu do Crime - Tito Prates - Tomo Literário

São Paulo é uma cidade que apresenta muitos mistérios. Na capital paulista você pode encontrar lugares inóspitos e cheios de curiosidades. Um desses locais é o Museu do Crime - que também dá nome ao mais recente livro do escritor Tito Prates, que foi publicado pela Monomito Editorial em 2019 (1ª edição; 399 páginas).

O referido museu, que fica localizado na sede da Associação dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo, teve seu acervo montado por um policial aposentado chamado Milton Bednarski. Por meio de fotografias, documentos, objetos, armas e quadros são contadas histórias de crimes bem conhecidos e que ocorreram no estado.

A São Paulo que revela segredos e guarda mistérios é o cenário do livro de Tito Prates. A cidade passa a conviver com uma série de ocorrências de crimes que tem diferentes aspectos. Algo, no entanto, chama a atenção dos  investigadores. As vítimas aparecem com a unha do dedo do pé pintada de rosa. Esse detalhe leva-os a acreditarem que estão lidando com um assassino em série. E, mais do que isso, alguns elementos que são descritos corroboram a tese de que eles estão lidando com um serial-killer copycat - aquele tipo de assassino que imita outros.

O clima de mistério que é essencial em qualquer livro de romance policial já aparece nas páginas iniciais. Tereza Mendonça, uma atriz que está afastada de suas atuações está em tratamento de enfisema pulmonar e usa um tubo de oxigênio. Reclusa em seu apartamento e pouco vista, num determinado dia ela saí do edifício. Em seu apartamento um crime ocorre. Sua filha é encontrada morta no banheiro e a forma como o corpo está colocado pode levar-nos a pressupor que trata-se de um suicídio. 

Outros crimes acontecem e a suspeita de um jovem que acaba de ingressar na polícia é que um assassino em série está agindo e que muitos de seus crimes são reproduções de casos bastante noticiados. Se não foram noticiados, alcançaram alguma repercussão entre os moradores do estado. Tais crimes, que inicialmente se demonstram desconectados, provocam uma sensação de insegurança. Para o jovem policial a resposta para os casos pode advir dos crimes que estão expostos no Museu do Crime.


Tito Prates nos entrega um romance policial digno de ser aplaudido e que revela a maturidade de seu trabalho. Se o autor já havia nos brindado com boas histórias que foram publicadas em diversas antologias e com publicações que fez por outras editoras, incluindo o livro de não-ficção Agatha Christie From My Heart - a primeira biografia brasileira de Agatha Christie, agora ele ratifica o seu bom trabalho como contador de histórias no livro publicado pela Monomito. Museu do Crime é um livro fascinante e que deve ser lido por qualquer leitor ávido por boas histórias policiais.

As investigações sobre os sucessivos casos que atormentam São Paulo se torna um grande enigma para o leitor que acompanha passo a passo o desenrolar dos casos e a busca da polícia pela solução dos crimes. Outrossim, os personagens que compõe a obra também são bem aproveitados na trama e revelam-se bem construídos. Aliás, podemos constatar que há inúmeros personagens e todos tem uma função na história.

Sílvio, o jovem policial, é um personagem interessante. Detalhista, por vezes prolixo, os detalhes de suas observações sobre os crimes e sua visão aguçada sobre os casos rende na trama. Meireles, o delegado, é um homem mais sisudo, mas que demonstra profissionalismo e boa administração, inclusive porque sabe lidar com seus subordinados, dando-lhes espaço para atuação. Tereza Mendonça, a atriz, é uma mulher intrigante e cheia de surpresas. Sua vida parece uma verdadeira novela. Paola é uma personagem que aparece na história e que se envolve com Normam e que carrega um ar de mistério e sedução. Porfírio - médico legista do Instituto de Medicina Legal Oscar Freire - também é outro personagem que fixa-se em nossas impressões durante a leitura. Argemiro, o técnico do instituto, revela-se outra figura singular.

Em meio ao cenário de crimes, Tito coloca uma pitada de romance que se configura com Paola e Porfírio. "Aquela garota mexia com ele". Nesse caso, um assunto que aparece tratado no segundo plano é a atuação profissional de Porfírio versus o seu envolvimento pessoal com alguém que tem alguma ligação com a história dos crimes. E isso, caro leitor, vai mexer com você durante a leitura.

A história de todos os personagens vai se entrelaçando, na medida em que novos crimes vão acontecendo e que a investigação sobre os casos avança. Personagens novos aparecem, o que faz com que criemos várias teorias sobre o suposto criminoso. A lista de suspeitos aumenta a cada capítulo. O emaranhado de relações dá ao leitor a possibilidade de especular fatos que vão acontecer adiante e, certamente, nos deixa intrigados com o comportamento de alguns personagens diante da situação que se apresenta. Não vai ser nada difícil você mudar o seu suspeito principal.

O autor, profundo conhecedor de Agatha Christie, faz uma homenagem à Rainha do Crime quando dá a alguns capítulos o nome de títulos da escritora inglesa. Quem gosta de Agatha vai captar as referências. 


Merece destaque o fato de o autor ter se inspirado em crimes reais para criar os crimes fictícios que são relatados na trama. Todos eles tem inspiração em casos que estão no Museu do Crime, o que faz com que identifiquemos muitos deles pelos elementos que são apresentados durante a narrativa. Aqui não podemos deixar de destacar o quanto o trabalho gráfico de uma edição pode ser complementar à história criada pelo autor. Em páginas pretas, com letras brancas, temos momentos fortes em que o leitor acompanha o serial killer na realização de seus crimes. Em algumas das divisões da obra temos uma página que apresenta notícias sobre crimes ocorridos no estado e que levam-nos a relembrar o Notícias Populares - jornal que existiu e que circulou em São Paulo que apresentava manchetes violentas e/ou sexuais. Uma dica: não deixe de ler o conteúdo das matérias que estão nessas páginas da obra. Elas complementam a ação que se desenrola na trama.

Falar da capa também se faz necessário. Nela temos elementos que tem ligação com a história. Ali temos um troféu que tanto era almejado pela atriz Tereza Mendonça, uma moldura do palco que nos remete ao Oscar e sangue.

Museu do Crime é um excelente livro policial, com acontecimentos que nos faz pensar e repensar sobre tudo que é apresentado durante a obra até chegarmos ao desfecho dos casos que nos são apresentados. A morte é o componente central, mas há uma motivação para que o assassino em série pratique os crimes e a solução vai surpreende até o mais atento leitor. Reviravoltas, revelações e surpresas não faltam ao longo da obra. Por vezes refutamos algumas teorias que criamos ao longo da história. Nem tudo e nem todos são exatamente o que parecem ser.

Temos um passeio delicioso pela trama bem arquitetada, um verdadeiro banquete para quem gosta de romances policiais. Museu do Crime não pode faltar na sua lista de leituras.


Tito Prates

Sobre o autor:

Tito Prates é presidente da ABERST - Associação dos Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror, autor dos livros Agatha Christie From My Heart - Uma Biografia de Verdades (a primeira biografia brasileira da escritora inglesa), Antiquário Portenho e Museu do Crime. Tito tem outros livros publicados, além de participações como organizador e como escritor em várias antologias de contos. Tito Prates também dá nome ao clube de leitura formado por alunos da EMEF JOCAM.

Ficha Técnica:

Título: Museu do Crime
Escritor: Tito Prates
Editora: Monomito Editorial
Edição: 1ª
Ano: 2019
ISBN: 978-65-80505-02-6
Número de Páginas: 399
Assunto: Literatura policial

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