Paulo Freire - Mais Do Que Nunca - Walter Kohan - Tomo Literário

Paulo Freire - Mais Do Que Nunca - Walter Kohan

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Paulo Freire, considerado o patrono da educação brasileira, é um homem que, em tempos atuais, desperta tanto adoradores quanto aqueles que detonam o seu trabalho (os haters, em linguagem de redes sociais). Falar de um nome polêmico pode despertar no leitor as mesmas reações apresentadas. O livro Paulo Freire - Mais Do Que Nunca - Uma Biografia Filosófica, foi escrito por Walter Kohan e publicado pela Editora Vestígio (2019; 269 páginas).

Inegável que Paulo Regles Neves Freire é um homem que tem representatividade tanto para a educação brasileira, quanto para a da América Latina e até mundial. "Sua relevância para o mundo da educação é destacada por importantes acadêmicos de diversos países." Seus livros foram publicados em mais de vinte línguas. Na bibliografia filosófica de Walter Kohan, o autor pretende mostrar Paulo Freire. Não é, portanto, um livro sobre ideologias ou sobre a política partidária de Freire (ele foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores - PT). A política que Kohan trata na obra é ampla, referindo-se ao modo como se dá o poder nas relações que se estabelecem. Naturalmente, a política tratada é o que existe no modo de exercício do poder que aparece ao ensinar e aprender, portanto entre a relação estabelecida entre aluno e professor.

"...pensar abertamente os sentidos políticos que se afirmam ao ensinar e aprender."

O autor apresenta os princípios que o nortearam durante a escrita da obra, o que podemos dizer que são os pilares sobre os quais passa a vida de Freire (mescla-se aqui tanto a vida no âmbito privado, quanto no sentido público). De modo direto e sem delongas, o autor os define sinteticamente em: a vida, a igualdade, o amor, a errância e a infância. É por meio desses princípios que o biógrafo descreve os acontecimentos e filosofias de Paulo Freire.

O livro traz uma entrevista realizada pelo autor com Lutgardes Costa Freire - filho caçula de Paulo Freire (falecido em 2 de maio de 1997). A entrevista foi realizada em São Paulo, no Instituto Paulo Freire. O entrevistado fala sobre infância, exílio, a figura do Paulo Freire como pai e como intelectual.


A vida, o primeiro princípio abordado da obra, revela o campo de estudo no qual Paulo Freire é estudado, a filosofia da educação, bem como as influências possíveis na formação do pensar de Paulo Freire. Essa etapa trata também das questões como Paulo Freire pensava e atuava: "assim como Sócrates dedica sua vida a tentar acordar os atenienses do que considera uma existência sem autoexame, Paulo Freire dedica a sua a tentar tirar os oprimidos dessa condição, buscando, ao mesmo tempo, acordar os opressores de sua condição de opressores."

A igualdade é objetivo a ser alcançado em algumas esferas como a econômica, política e social. Paulo Freire, contudo a afirmava como um princípio. Educadores e educandos devem ser iguais, o que pressupõe que não há ninguém superior nessa relação que se estabelece. O autor faz um exame minucioso dessa afirmação, fala sobre Joseph Jacotat - pedagogo francês do século XIX (1770 - 1840). Ele era outro defensor da educação e o autor contrapõe suas ideias com as de Freire e responde questões inerentes a liberdade. Questões essas que são levantadas ao longo do texto que trata desse princípio.

O amor é um dos pilares reforçados pelas últimas linhas da Pedagogia do Oprimido, obra de Paulo Freire: "se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que permaneça: nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil amar." Amar é, para Paulo Freire, uma condição de educar e por Kohan "é necessário amar o aprender para poder ensinar o que se ensina". Essa relação apresentada na obra é, contudo, multifacetada.

Paulo Freire foi alfabetizado pelo seu pai e pela mãe em Recife, à sombra de uma mangueira. O educador inventava e reinventava sua vida amorosa,  que no livro recebe um sentindo amplo e detalhado. Não é só amor como apego, mas como desprendimento, doação, compreensão, humildade e amorosidade.

A errância é outro princípio tratado. Refere-se ao sentido de que o educador é aquele que anda, caminha e se desloca, tanto no quesito físico quanto no modo de pensar, vez que "uma educação política parte do princípio de que o mundo pode ser de outra maneira". O texto trata Paulo Freire como um andarilho, de corpo e que transita pelas ideias. Veja-se que ele foi um homem que viajou por diversos lugares do mundo buscando contribuir para a educação e também fez-se educando nessas viagens. Seus pensamentos também viajaram pelo mundo, posto que é estudado em diversos países.

O quinto princípio abordado pelo autor é a infância. Paulo Freire era um preocupado com as práticas educativas e Kohan analisa alguns de seus textos, que mostram uma volta a infância como possibilidade de autodescoberta de ver quem é e qual foi a sua gênese. Nas palavras do biografo: "Paulo Freire busca (e encontra), em seu tempo de menino, o Paulo Freire maduro que é: sua infância cronológica não é falta, mas presença em seu presente."

Após os princípios adentramos o epílogo em que o autor faz críticas a Paulo Freire e questiona para que política há lugar e tempo na educação. O apêndice e notas fecham o livro.


No cenário político atual e em dado tempo, Paulo Freire recebe pechas de algo que, por vezes, não faz sentido. Possivelmente aqueles que desdenham de sua observações não tenham ciência do conteúdo de suas obras ou se escondem atrás da ideologia fazendo uma leitura torta e tendenciosa. 

É preciso que compreendamos a dimensão do trabalho de Paulo Freire, que vai além de sua posição político-partidária. Adentrar a vida do autor, conhecer mais sobre seus pensamentos e a filosofia que empregava no que refere-se à educação, é uma forma de aprendermos e analisarmos a importância do biografado.

A proposta de Walter de analisar e discutir a filosofia de Paulo Freire é rica. O texto é claro, repleto de referências bibliográficas, o que permite ao leitor a possibilidade de expandir o conhecimento sobre o que se lê. A estrutura do livro, que apresenta os princípios para o leitor entender a vida de Paulo Freire, também é um facilitador para compreensão da filosofia do biografado, sem contudo deixar de lado de pontuar questões pertinentes à sua vida privada. Paulo Freire homem, pai, educador, filósofo, filho e escritor se fundem.

Leia, analise, observe, entenda.

Sobre o autor:

Walter Kohan é professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador do programa Cientista de Nosso Estado (CNE) na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). É pós-doutor pelas universidade de Paris VIII (França) e British Columbia (Canadá). Atual coeditor do periódico Childhood & Philosophy, foi presidente do Conselho Internacional para a Investigação Filosófica com Crianças (ICPIC) e tem dado curso de formação de professores em diversos países da América Latina e da Europa, além de outros como África do Sul, Moçambique, Coreia do Sul, China e Japão. É orientador de mestrado, doutorado e pós-doutorado na área de filosofia da educação. Seus trabalhos estão publicados em castelhano, italiano, inglês, português, francês, húngaro, russo e finlandês.

Ficha Técnica:

Título: Paulo Freire Mais Do  Que Nunca
Escritor: Walter Kohan
Editora: Vestígio
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-54126-45-2
Ano: 2019
Número de Páginas:269
Assunto: Biografia

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