Vemos diariamente no noticiário crimes
cometidos contra mulheres. Crimes bárbaros que as levam à morte. Trata-se de uma
questão de suma importância a ser debatida e, sobretudo, que leve a ações
efetivas que reduzam drasticamente a violência cometida.
Girassóis Femininos, do escritor Luís de
Oliveira, foi publicado pela Giostri em 2018 (1ª edição, 167 páginas) e tem
como plano central um assassino em série, cujas vítimas são mulheres.
O livro traz a história de um homem chamado
Edu, que usa da sedução para atrair suas vítimas, valendo-se de seus traços
físicos. Na ânsia de saciar o seu desejo sexual ele busca prazer na relação,
mas o ápice para esse indivíduo é a morte da vítima. Ele quer vê-las
completamente submissas e entregues, para que ele alcance o seu objetivo que é
o de retirar-lhes o bem mais precioso: a vida. Não importa a idade delas. Se
sentir alguma “atração” investe na sedução forçando uma relação e aí o bote
está dado, tal qual uma cobra sorrateira.
Em contraste com sua brutalidade, mas não
menos brutal, ele deixa no corpo das vítimas uma marca: um girassol. A flor
aparece na obra com uma simbologia que evoca uma história pregressa da vida de
Edu. Quando criança, o personagem teria enfrentado uma situação que usurpou
dele momentos de paz e tranquilidade.
Girassóis Femininos tem a narração feita em
terceira pessoa, no entanto, senti que a obra trata dos crimes na perspectiva
de quem os pratica – o personagem Edu. O leitor sabe, já na primeira página,
que o protagonismo será levado a cabo pelo viés do criminoso, que vê no aroma
exalado no sexo o modo de camuflar lembranças de um passado cruel. A visão de
que narração é feita pela perspectiva de tal personagem pode ser notada quando
há descrições se referem a mulher como objeto ou que lança a elas visões
machistas.
O autor se arrisca numa linha tênue e
controversa que pode gerar interpretações conflitantes para o leitor. Conflitos
que poderiam ser afastados com a narrativa feita em primeira pessoa. Sem
dúvida, algumas passagens causam desconforto, pela visão desse personagem que tem
a mulher como uma fonte no qual despeja seu prazer, até a morte. Isso faz parte
da concepção psicológica de Edu.
Como estamos falando de serial killer, um
senão deve ser apontado, que é o fato de que a culpa e o remorso, que são
sentimentos nulos em serial killers, chegam a ser usados para a constituição do
personagem matador. Edu flerta com esses sentimentos em algumas passagens do
livro, o que o fragiliza.
A jornada desse serial killer é impiedosa.
Ele deixa no corpo das vítimas a marca de um girassol, símbolo que traz consigo
não só a beleza e a sensibilidade da flor, mas também aquelas dores pessoais originadas
na infância. São essas marcas que permitem com que a polícia ligue os casos.
Nas descrições dos crimes há, naturalmente,
cenas de sexo, dado que o crime praticado pelo serial killer é dessa natureza.
Seduz, busca o prazer sexual e conduz a vítima à morte. A visão que o
personagem tem é um tanto ambígua, posto que ora ele vê as mulheres como flores
de seu jardim, mas no momento seguinte o que deseja é ataca-las, como se fosse
o jardineiro disposto a ceifar a vida da plantação que cultivou. Nesse sentido,
Edu revela a sua mente deturpada.
Edu é um personagem que causa repulsa pelas
práticas que tem, embora tenha em seu passado sofrido um ato igualmente
repulsivo. Esse homem, no entanto, entre quinze crimes que são apresentados em
Girassóis Femininos (de 1996 até 2005), se depara com uma pessoa que é capaz de
fazê-lo olhar para si e para as mulheres de um jeito diferente. É por meio dela
que ele sente-se confortável a revelar a sua história pregressa. Talvez com
ela, Edu encontre alguma luz no mundo de escuridão pelo qual resolveu seguir.
Sobre o
autor
Foto: Divulgação |
Luís de Oliveira é formado em Licenciatura em
Educação Física. Escritor e poeta, mora em Pereira Barreto – SP. Medalhista de
bronze da Olímpiada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, em 2012, publicou
o livro de poesia Choro de Gratidão (Baraúna, 2013) e o romance Um Coração e
Seus Segredos (2015). Atua como professor em vários projetos culturais e
sociais que incentivam a leitura e a escrita. Foi o 12º colocado no Prêmio
Sarau Brasil com o poema Tempestade, entre 3.706 inscritos para a escolha de 20
poemas.
Ficha
Técnica
Título: Girassóis Femininos
Escritor: Luís de Oliveira
Editora: Giostri
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-516-0207-2
Número
de Páginas:
167
Ano: 2018
Assunto: Literatura
brasileira
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