O espaço para pessoas negras na TV, literatura ou cinema não é o mesmo que da população branca. Após centenas de reivindicações de ativistas raciais, as coisas parecem estar mudando, mesmo que lentamente. Nos últimos anos, a representação negra - apesar de ainda ser pequena se comparada a branca – vem crescendo na cultura pop. Hoje em dia séries, livros e filmes têm mais protagonistas negros e mais personagens em posições de igualdade, não apenas em papéis subalternos ou de servidão.
Séries como How to get away with murder,
Scandal e Empire, filmes que exploram heróis negros como Pantera Negra ou
livros como as da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, colocam o negro em
posições centrais e de relevância.
A atriz americana Leslie Jones contou em um
programa de TV em 2016 como se emocionou ao ver uma atriz negra quando era
criança, e relatou o quanto significou para ela se ver representada na tela. Da
mesma forma, o crescimento da venda de produtos e cosplays de personagens
femininas entre as crianças, mostra como se ver nas telas é significativo,
principalmente para as minorias.
Pensando nisso, no cenário nacional, podemos
encontrar a obra “A gente dá certo” de Leonardo Antan, que além de contar uma
história gostosa, regada a música e cultura brasileira, tem uma cativante
protagonista negra. Juliana é uma personagem forte que traz consigo as marcas
que a moldaram durante a vida. Negra, periférica e bissexual nunca se acostumou
com as portas fechadas pela segregação e se manteve altiva frente as
dificuldades que enfrenta.
O livro levanta discussões relevantes da
sociedade como diversidade racial e sexual. Quando se reencontram dez anos após
uma separação trágica, Juliana e Rodrigo não se reconhecem mais. Transformados
em pessoas completamente diferentes tanto tempo depois. Ela é uma militante
negra, engajada, bissexual, que passeou indecisa por diversos cursos das áreas
de Humanas. Ele é hétero, branco e não encontra muitos preconceitos sociais em
sua trajetória de estudante de Administração, levando uma vida confortável.
“Apesar de eu não optar por cenas que
deixassem claro o preconceito, alguns diálogos discutem como a questão racial é
muito mais complexa que atos de discriminação explícitos. O racismo está na
nossa sociedade de maneira estrutural, impedindo pessoas de acessarem diversos
espaços e situações. A relação dos protagonistas exemplifica um pouco isso, já
que Rodrigo possui muito mais ‘privilégios’ durante sua trajetória que
Juliana.” contou o autor ao explicar os motivos que o levaram a escolher um
casal inter-racial como protagonista.
Dos dois lados, há radicalidades,
intolerâncias, falta de diálogos e maniqueísmos, dividindo os debates em todas
as esferas sociais. Juliana e Rodrigo poderiam ser dois jovens que discutem
sobre a visão de vida e sociedade oposta em que vivem, mas o amor que tiveram
mais jovens os reconecta. Assim, ambos dão a chance de se escutar e debater
verdadeiramente suas perspectivas de mundo. Mesmo que muitos pontos ainda
continuem conflitantes, o diálogo é chave fundamental para uma transformação
necessária na vida de ambos.
“Foi quando entrei para Ciências
Sociais, passando a conviver com novos amigos e repensando um milhão de
questões. Eu refleti e falei: por que fico alisando meu cabelo, se ele pode ser
bonito ao natural também? Não preciso esconder as minhas raízes ou quem eu sou
para agradar alguém... Foi uma transição complicada.” Leonardo Antan – A gente
dá certo – Pag. 18
Ficha Técnica
Autor: Leonardo Antan
Título: A gente dá certo
Editora: Rico Editora
Páginas: 120
Autor: Leonardo Antan
Título: A gente dá certo
Editora: Rico Editora
Páginas: 120
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