Entrevista: Francis Graciotto - Tomo Literário

 


Francis Graciotto, autor dos livros Febra Vermelha I e II e de Dias Febris, concedeu uma entrevista que foi publicada em primeira mão para os integrantes do Tomo Literário Clube de Leitores. Agora, compartilhamos a entrevista com os leitores do site.

O escritor falou sobre sua trajetória até chegar ao meio literário, sobre a duologia Febre Vermelha, o mercado de literário para o gênero de terror, o que o move no processo de escrita, novos projetos e muito mais.

Tomo Literário: Como foi a sua trajetória até chegar na publicação da sua primeira história?

Francis Graciotto: Eu sempre gostei de escrever. Fosse nas aulas de redação na escola ou jogando RPG com meus amigos, criar e contar histórias, especialmente algo perturbador como terror, era algo que me fascinava. Apesar disso, por um bom tempo eu tinha dificuldade em concluir minhas histórias. Escrever era um dos meus hobbies, e com uma rotina de trabalho pesada isso estava ficando cada vez mais de lado.

Em 2012, quando surgiu a ideia de Febre Vermelha, decidi levar isso mais a sério e busquei alguns livros técnicos sobre escrita e um curso, que me ajudaram bastante a organizar a história e meu processo de escrita. Outra coisa que decidi é que eu não faria isso sozinho, e compartilhei este projeto com meu amigo Rafael Sauce. Ele não é escritor, mas me ajudou muito com a criação dos personagens, da história e especialmente dos aspectos mais técnicos do vírus e da pandemia (não éramos todos especialistas no tema naquela época). Este comprometimento com a parceria também me ajudou a levar meu primeiro projeto literário até o fim.

Tomo Literário: Febre Vermelha é uma duologia que você publicou de forma independente. Como surgiu a ideia dos livros?

Francis Graciotto: Desde que vi meu primeiro zumbi, em Resident Evil 1, sou apaixonado pelo tema. Depois de incontáveis filmes, jogos, livros e HQs, culminando em The Walking Dead, eu ainda sentia que tinha uma história a ser contada ali, da forma que eu gostaria de ler. Além do terror, do gore e tudo o que já tinha visto aos montes em outras histórias, havia dois elementos que eu queria na minha história:

1) Que se passasse no Brasil, para o leitor se identificar mais com o ambiente e as reações dos personagens;

2) Que fosse algo o mais realista possível, algo que o leitor pudesse imaginar acontecendo. Nada contra mortos-vivos e histórias sobrenaturais (alguns autores trabalham isso muito bem), mas para mim o terror é bem mais visceral quando estes elementos não estão presentes. A história que mais chegou perto disso é um dos meus filmes de zumbi favoritos, Extermínio (28 days later), mas ainda assim não é tão realista quanto eu gostaria. Eu e Rafael passamos um bom tempo pesquisando e desenvolvendo a parte técnica de como o vírus funcionaria antes de desenvolver as histórias de Febre Vermelha e Dias Febris.

Tomo Literário: Dias Febris surgiu depois ou era algo que já tinha em mente fazer utilizando o momento em que se passa a febre vermelha?

Francis Graciotto: Dias Febris são histórias que não caberiam em Febre Vermelha. Novos personagens e tramas que anotei enquanto escrevia a duologia e elas simplesmente não se encaixariam no que eu queria contar no romance, mas que isoladamente funcionavam bem e que complementavam o universo que estávamos criando. Comecei a publicá-las em um blog na época, como forma de divulgar Febre Vermelha, mas logo vi que tinha uma oportunidade de transformá-lo em um livro de contos.



Tomo Literário: Como você tem visto o mercado editorial para escritores de terror?
Francis Graciotto: Confesso que me acomodei bastante nos últimos anos como autor independente e sem grandes pretensões de vender milhões de livros, então acabo não me envolvendo muito com isso. Escrevo exclusivamente porque eu gosto e acredito no potencial das minhas histórias. Fico feliz por ter leitores interessados no que escrevo e pelo reconhecimento.

Tomo Literário: Qual ou quais histórias que você escreveu que mais gostou?

Francis Graciotto: Isso é como perguntar a alguém qual o seu filho favorito! É difícil, mas algo que me orgulha bastante é Febre Vermelha Parte 2. Fiquei muito feliz com a conclusão da história, que foi finalista do prêmio Aberst. Além disso, gosto muito do conto Dias Febris (o último da coletânea, que leva o título do livro e que foi semifinalista do mesmo prêmio). Depois de escrever várias coisas sobre disseminação viral e pandemia anos antes de lidar com uma situação real, este foi o único conto da saga que escrevi pós-Covid. Isso me deu outra perspectiva e com certeza impactou a história.

Tomo Literário: Você tem alguma rotina de escrita? O que te move a escrever?

Francis Graciotto: O que me move são meus objetivos, meus projetos. Quando inicio um livro ou um conto, isso me motiva a criar uma rotina rígida para ver o resultado final. Quando comecei Febre Vermelha 1, eu vivia em uma situação diferente, com vinte e poucos anos, então essa rotina era à noite, depois do trabalho e de passar um tempo com a minha esposa, eu escrevia até 3 ou 4 da madrugada. Já quando comecei Febre Vermelha parte 2, eu tinha uma filha pequena, e me organizei para acordar umas 4 ou 5 da manhã para escrever, antes de ir trabalhar. Minha rotina de escrita tem que se adaptar às minhas outras rotinas, mas quando começo um projeto o mais importante é manter a frequência e disciplina.

Tomo Literário: Há algum projeto novo vindo por aí? Pode nos contar?

Francis Graciotto: Me mudei recentemente para os Estados Unidos, então no momento estou focado em me adaptar aqui com a família e o novo trabalho, mas tenho algumas ideias no forno que quero começar a escrever em breve.

Tomo Literário: Você recebeu menção honrosa no Prêmio Aberst pelo conto Salve às Orcas e foi finalista com Febre Vermelha. A participação em prêmios e as indicações ajudam no fomento da leitura?

Francis Graciotto: Com certeza! Especialmente aos autores nacionais. Estes prêmios ajudam a validar a qualidade do nosso trabalho, o que pode ajudar os leitores a escolher ler um autor independente nacional ao invés de um best seller internacional, que já traz a validação de fora. Isso é ótimo para aproximar o leitor brasileiro dos autores brasileiros, assim como o trabalho que fazem os influenciadores e clubes de leitura como o Tomo Literário.

Francis Graciotto / Foto: Reprodução

Tomo Literário: Quais são os livros que de alguma forma te marcaram e que você recomenda?

Francis Graciotto: São muitos, mas vou listar 3: Clube da Luta (Chuck Palahniuk), Christine (Stephen King) e Feliz Ano Novo (Rubem Fonseca).

Tomo Literário: Quais escritores/escritoras que te inspiraram ou inspiram na sua trajetória como escritor?

Francis Graciotto: Estes mesmos 3 autores me inspiram bastante. Palahniuk com seu estilo de escrita sarcástico, King com seus personagens bem desenvolvidos e Fonseca com o uso da violência de forma perturbadora. Além deles, Jorge Alexandre Moreira e Claudia Lemes são ótimas inspirações e colegas que conheci como escritor, que vêm publicando histórias excelentes e conquistando cada vez mais visibilidade.

Tomo Literário: Vamos fazer um "isso ou aquilo" e você responde o que mais prefere e complementa se achar necessário.

Tomo Literário: Livro físico ou e-book?
Francis Graciotto: Ambos, e audiobook também! Acho que cada um é melhor para uma situação diferente, então vou com o que otimize o tempo que tenho para ler.

Tomo Literário: Escrever conto ou romance?
Francis Graciotto: Conto. Projetos mais longos também trazem uma gratificação enorme, mas pode ser um processo exaustivo. Escrever contos é mais fluido para mim.

Tomo Litrário: Escrever de dia ou durante a noite?
Francis Graciotto: Tanto faz! Para mim, horário bom é quando tiver tempo sem interrupções. O importante é adaptar uma rotina para escrever com frequência.

Tomo Literário: Terror dos filmes ou terror dos livros?
Francis Graciotto: Livros. Gosto muito de filmes de terror, mas os livros são sempre melhores.

Tomo Literário: Terror da ficção ou terror real?
Francis Graciotto: Prefiro ficção, de preferência o mais realista possível.

Tomo Literário: Quer comentar algo que tenhamos falado ou deixar um recado para os leitores do clube e do site?
Francis Graciotto: Agradeço ao clube pela escolha de Dias Febris para a leitura de Halloween! Quem quiser falar comigo ou adquirir os livros, é só chamar pelo Instagram @francisgraciotto.
 

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