Paulina Chiziane recebeu o Prêmio Camões - Tomo Literário

 


Paulina Chiziane nasceu em 04 de junho de 1955, em Manjacaze, uma vila moçambicana. Na juventude, atuou na Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), durante a Guerra de Independência, e só publicou seu primeiro romance, Balada de amor ao vento, em 1990.
 
A independência de Moçambique aconteceu em 1975 e após tal marco histórico, teve início uma guerra civil. Paulina Chiziane, então, tornou-se voluntária na Cruz Vermelha durante o conflito, e sua atuação política não cessou após o fim da guerra, em 1992. A autora passou a fazer parte do Núcleo das Associações Femininas da Zambézia (Nafeza), organização não governamental criada em 1997, na cidade de Quelimane.
 
Seu sucesso como escritora chegou em 2002, com a publicação do livro Niketche: uma história de poligamia. Por essa obra, ela ganhou o Prêmio José Craveirinha, da Associação dos Escritores Moçambicanos. Essa narrativa apresenta as principais características literárias das obras da autora, como a prevalência da voz feminina. Além disso, é possível perceber que a escritora usa seus romances para fazer crítica de costumes e destacar a diversidade cultural de seu povo.
 
Paulina foi a Primeira mulher negra e africana a vencer o Prêmio Camões, maior distinção da literatura lusófona. Aos 67 anos a escritora recebeu oficialmente o prêmio nesta sexta-feira, em Lisboa. Em discurso na cerimônia, a ganhadora do prêmio que havia sido anunciado em 2021 pediu a descolonização da língua portuguesa. Ela disse: "a língua portuguesa para ser nossa precisa de um tratamento, de uma limpeza, de uma descolonização", conforme aponta o jornal português Diário de Notícias.
 
Quando do anúncio da premiação, o júri destacou a vasta produção e a boa recepção crítica da obra da escritora e citou também o seu reconhecimento acadêmico e institucional. A importância que Chiziane dá em seus livros aos problemas da mulher moçambicana e africana e seu trabalho de aproximação aos jovens também foram apontados pelos jurados.
 
Paulina Chiziane / Foto: Nuno Ferreira Santos


Paulina Chiziane se intitula como uma contadora de histórias, o que não a exclui de ser umas das mais importantes romancistas da atualidade: “Dizem que sou romancista e que fui a primeira mulher moçambicana a escrever um romance [...], mas eu afirmo: sou contadora de estórias, estórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte” (CHIZIANE, 2021, contracapa).

A prosa de Chiziane é marcada pela oralidade e pela poesia, com imagens marcantes, sonoras, visuais e líricas. Ao mesmo tempo, apresenta ao leitor um retrato contundente da cultura moçambicana e da mulher africana.

Publicou as seguintes obras: Balada de amor ao vento (1990); Ventos do apocalipse (1993, sem edição brasileira); O sétimo juramento (2000); Niketche: uma história de poligamia, de 2002 (Companhia de Bolso, 2021); O alegre canto da perdiz, de 2008 (Dublinense, 2018); As andorinhas (2009); Na mão de Deus (2012); Por quem vibram os tambores do além (2013); e Eu, mulher por uma nova visão do mundo (2013). A editora Nandyala, de Belo Horizonte, publicou o livro O canto dos escravizados (poesia) e Tenta (literatura infantil), este último ilustrado por Samora Délcio, em 2018.

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