Em busca de objetos num antiquário em Buenos
Aires, em San Telmo, “uma mini papeleira
de madeira marchetada, muito antiga” é encontrada e adquirida. No interior
dela o personagem-narrador que surge na introdução encontra alguns escritos. “Era um relato minucioso que diversas
pessoas haviam feito sobre alguns objetos que foram comprados e vendidos
naquele antiquário.” Começamos então a ter acesso a história desses objetos
nos contos ficcionais que compõe o livro O Antiquário Portenho – Objetos de
Benção e Maldição, do escritor Tito Prates, publicado pela Editora Illuminare
em 2018.
Cada um dos contos presentes no livro traz a
história de um objeto que esteve no antiquário portenho que dá título á publicação.
O Boneco de Pano é a primeira história. Um manequim adquirido para ser colocado
na vitrine de uma loja acaba provocando para o narrador, o proprietário da
loja, algumas ocorrências inusitadas e que junto com a venda das roupas de seu
estabelecimento, traz mau agouro.
O outro objeto do antiquário é O Armário –
nome do segundo conto do livro. O móvel vai para o novo apartamento de Edmundo
e eventos estranhos ocorrem no quarto em que o móvel foi depositado. O que há
ali? Será que o personagem descobrirá? Mistério, tensão e arrepios são
provocados no leitor.
Pepe Bertóglio, proprietário do antiquário,
conta a história do outro objeto: Os Militares de Mármore. A história é uma
aventura cheia de mistérios da qual ele é o protagonista. Os objetos em questão,
dois bustos de militares, foram encontrados em uma venda de garagem. Um dos
bustos seria de um militar que ajudou índios durante as guerras contra
espanhóis “durante a conquista da
península de Yúcatan e consequente aniquilação do povo asteca” e o outro
militar teria defendido uma parcela do povo inca. Essa é a história que será
exposta ao leitor, sem deixar de lado a inquietação do sobrenatural.
Um outro busto entra em cena no próximo conto
do livro: O Busto do Rapaz. Trata-se de uma estátua, cuja confecção fora
ordenada por Hécate – deusa da lua, do destino e da magia. Uma lenda antiga
remonta ao artefato que deveria ser criado o mais próximo possível de um rapaz
que fora amaldiçoado.
De acordo com uma carta que nos é relatada no
conto seguinte, temos uma cadeira dos tempos de Napoleão entrando em cena no
conto Cadeira de Ébano. Seria ela a causadora de incêndios pelos quais passou?
Eis o mistério eu explica a sua cor escura, mas seria esse um mistério apenas
remontando aos tempos do líder francês?
O Leão fala das tormentas durante o sonho. “.. quando se tinha um sono onde a pessoa
ficava totalmente paralisada, tentando se mexer ou acordar, isso era
consequência de um demônio da noite estar sentado sobre o seu peito, enquanto
estava dormindo.” Uma explicação
tenebrosa acerca da paralisia do sono.
Temos ainda A Estátua Sentada, que foi
adquirida em Paris (França) e tem sua história contada por Samuel Brownstein –
uma peça que tem ligação com um certo espírito. Há ainda Cena de Dante, que
relata a história de outra estátua que tem ligação com um crime. “A estátua representa dois homens, um
sustentando o corpo do outro, com os corpos contorcidos e sobre eles está uma
mulher de braços estendidos.” Há o conto chamado A Cabeça do Anjo, uma peça
que, segundo contam, pode ter sido retirada do Cemitério da Ricoleta, em Buenos
Aires. A tal cabeça provocara insanidade em algumas pessoas e, por isso, era
mantida numa redoma de vidro.
No centro de A Menina e os Livros temos uma
boneca e a prática do vodu e em Os Livros Sagrados temos “todas as pragas e versículos de amaldiçoar da bíblia transcritos”.
Bleu de Chine é o conto que encerra a publicação, contando-nos a intrigante
história de um aparelho de chá.
Assim que os contos terminam vem o Epílogo,
em que há uma volta ao antiquário e temos o relato sobre a manifestação oculta
que há em todos os objetos que conhecemos ao longo do livro O Antiquário
Portenho.
Por tratar-se de um livro de contos, em que
cada um deles é centralizado por um objeto que faz parte da coleção do
antiquário, temos os mistérios ligados diretamente às peças e não a um
personagem. Como os relatos foram os encontrados na papeleira marchetada, eles
tem uma característica em comum: esclarecer a origem dos objetos (sejam eles
amaldiçoados ou abençoados, posto que alguns estiveram presentes em momentos de
salvação ou fartura daqueles que usufruíram deles). Tais relatos que são
contados aos leitores são feitos por quem comprou ou por quem vendeu o artefato
para o antiquário.
O oculto está a espreita em cada breve
história que nos é contada e se interliga de maneira realmente surpreendente no
final do livro. Não ouse pular e ler o final (porque a essência está em seguir
lendo os contos até chegar a surpresa que nos aguarda), pois conforme descrito
na contra-capa da obra: “algo mais
sinistro o espera nas últimas páginas”. Embora os contos possam ser lidos
de maneira independente, a conexão entre eles, o elo que os liga ao antiquário,
dá unicidade ao livro, que pode ser devorado rapidamente pelo leitor.
Tito Prates conseguiu unir em cada um dos
contos presentes no livro uma história impactante sobre os objetos e elas
ganham um ar de lenda. Será fácil o leitor se pegar em alguns momentos se
questionando se a história é real. E ainda que não seja, os detalhes que nos
são relatados, nos dão essa impressão.
O Antiquário Portenho é um bom livro de
contos, daqueles que farão você olhar de um modo diferente para os objetos
antigos em sua casa ou aqueles que você espiar em algum antiquário por aí.
Sobre o
autor:
Tito Prates | Foto: Reprodução |
Tito Prates mora em Jandira, SP. Escritor de
policial, mistério e terror com contos premiados e publicados em diversas
antologias, é autor também da biografia brasileira da Rainha do Crime – Agatha
Christie From My Heart. O livro foi publicado em 2016 pela Editora Illuminare.
A biografia da escritora também foi lançada na Argentina. Tito é Embaixador
Brasileiro de Agatha Christie Ltd., desde 2014. Diretor da ABERST – Associação
Brasileira dos Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror é escritor e antologista
da Editora Illuminare.
Ficha
Técnica
Título: Antiquário Portenho
– Objetos de Benção e Maldição
Escritor: Tito Prates
Editora: Illuminare
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-85005-05-4
Número
de Páginas:
83
Ano: 2018
Assunto: Contos
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