Sangue Tinto, de Arnaldo Pagano foi publicado
pela Transversal em 2018.
Daniel Figueroa é um grande investigador da
polícia de São Paulo que foi para a cidade portuguesa do Porto, localizada ao
norte daquele país. Lá, como estudante de filosofia, os conflitos que lhe
afligiam parecem adormecidos. A distância do seu país deixou adormecida a
ferida, no entanto, elas ainda continuam reverberando em Daniel. Vale aquela
máxima de que não há como termos uma fuga de nós mesmos, pois os “fantasmas”
continuam nos perseguindo.
Na chamada “noite dos baldes”, uma festa da
região, ele não se furtou do consumo de bebida alcoólica. Depois de sair da
festa, no principal cartão-postal da cidade, a Ponte Luís I, em direção ao Rio
Douro, Daniel presencia a cena de um crime. Uma mulher é arremessada da ponte.
“Figueroa ainda tentava procurar a imagem e entender o
que estava acontecendo quando viu a mulher ser erguida e atirada. Um último
grito estridente ganhava volume à medida que o corpo se aproximava do rio até
bater violentamente contra a água.”
Ele viu um homem correr, no entanto, tomou a decisão
de pular na água para tentar salvar a mulher que havia visto ser jogada. Apesar
do álcool sua decisão foi pela tentativa de salvar a vida em vez de tentar
partir em disparada para pegar o criminoso. Daniel, no entanto, é resgatado das
águas sem que tenha conseguido salvá-la, e em função de ter bebido muito ele
não consegue se lembrar exatamente de tudo que acontecera. Inclusive, alguns
policiais acreditam piamente que ele se jogou no rio pelo fato de estar bêbado.
Aos poucos, no entanto, a imagem do crime vai se refazendo na mente de
Figueroa.
Ele toma a decisão de ir até a polícia e
revelar o que acontecera, mas é surpreendido com a notícia sobre a morte de
Filipa Boaventura. Esse é o nome da mulher que foi atirada no rio. O Jornal das
Oito, no entanto, noticiara que a Polícia Judiciária havia encerrado as
investigações. O acontecimento estava solucionado. Para eles, a funcionária da
produtora de vinhos Walcott’s havia cometido suicídio.
Uma vez que a decisão se distanciava de tudo
aquilo que Daniel testemunhara ele resolve seguir investigando o caso, após a
provocação de uma mulher chamada Paula Guterres, inspetora-estagiária da
Polícia Judiciária, que não acreditava no desfecho dado pela polícia.
A história de Sangue Tinto se desenrola com a
dupla Daniel e Paula investigando as relações de Filipa, que fora assassinada,
para, dessa forma, chegar à motivação do crime, o autor da morte e reabrir o
caso. A dosagem de relação afetiva vem com o encontro desse casal de
protagonistas.
Sangue Tinto é um romance policial com boas
dosagens de mistério, personagens intrigantes – que carregam traumas passados,
a exemplo dos protagonistas –, e tem uma teia de relações que nos faz duvidar
de todos aqueles que vão aparecendo nas descobertas das investigações. Filipa,
a mulher com olhos da cor do Douro, tem uma história que o leitor descobrirá
ser intrigante.
Sobre o protagonista Daniel Figueroa, é um
investigador que, mesmo tentando se ver distante da vida policial, acaba se
conectando com o crime, tanto pelo fato de ser uma testemunha ocular, quanto
pelo fato de sua inconformidade com o que a polícia trata ser o desfecho do
caso. No entanto, Figueroa não é um daqueles tipos de investigadores cheio de
soberba e prepotência que menospreza os demais personagens. A história contada
sobre ele revela um homem equilibrado, de bom senso, capaz também de conciliar
sua vida pessoal e afetiva com o caso que investiga, em que pese ter ainda uma
história do passado que vai se revelando ao leitor (aquele “fantasma” a que me
referi logo no início da resenha).
Paula, a outra personagem que divide o protagonismo
do livro com o detetive, é uma mulher que não figura apenas no papel de
coadjuvante. Ela é um tipo que chama a responsabilidade para si, não ficando à
sombra do homem. Muitos elementos que são determinantes na descoberta sobre o
real motivo da morte da mulher que foi arremessada da ponte, acabam sendo
desvendados com a participação da personagem. Fique
Sangue Tinto tem uma narrativa fluída e uma
trama policial que cativa. A ambientação em Portugal e a disputa de duas
famílias sobre a produção de vinho dão um contorno interessante na trama e
enche-nos de elementos que nos levam a pensar na possibilidade de conspiração,
sabotagem, um crime voltado ao universo corporativo, a uma guerra travada entre
as duas famílias mas enfim, o leitor será, sem dúvida, surpreendido com o
desfecho. O impacto vem quando as revelações são feitas.
Arnaldo Pagano mesclou muito bem toda a
intriga que há por trás do crime, com a vivência de seus personagens e as
surpresas que vão se revelando ao longo da história.
Recomendo a leitura!
Sobre o
autor:
Arnaldo Pagano | Foto: Reprodução |
Arnaldo Pagano nasceu em São Paulo, é
jornalista e bacharel em filosofia. Atua desde 2010 como redator de conteúdo
digital da RecordTV. Estudou roteiro audiovisual na Escola de Cinema de Cuba e
na Academia Internacional de Cinema de São Paulo. Em 2017 publicou seu primeiro
livro, a seleção de contos Museu de selfie e outras histórias. Sangue Tinto é o
seu primeiro romance.
Ficha
Técnica
Título: Sangue Tinto
Escritor: Arnaldo Pagano
Editora: Transversal
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-67009-24-7
Número
de Páginas:
209
Ano: 2018
Assunto: Literatura
brasileira
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