O primeiro parágrafo de um livro muitas vezes
desperta a atenção dos leitores. Das orações iniciais ou de uma única, o leitor
pode ser provocado ou pego de surpresa. Alguns inícios são surpreendentes,
outros mostram os elementos necessários para dar o mistério de uma boa trama, ou simplesmente chamam a atenção
pelo impacto que provocam.
Pensando nisso, separei cinco parágrafos
iniciais de cinco livros da Rainha do Crime, Agatha Christie. Vamos conferir?
“Em meu fim está meu
princípio... Eis uma citação que tenho ouvido com frequência. Soa bem, mas o
que realmente significa?”
É assim que começa a narração do personagem
Michael Rogers no livro Noite Sem Fim. O misterioso personagem de Agatha
Christie, na trama, ignora avisos de uma cigana sobre uma antiga maldição e não
imagina que, no Campo do Cigano, desafiará sua própria sorte. Com uma citação
que o personagem ouve, logo no início já paira no ar o que aquela frase
representará para ele e como isso vai impactar a história elaborada pela
autora. Como o próprio personagem questiona, o que realmente significa essa
frase?
“_Mistérios
sem solução.”
Simples assim. Essa frase instiga o leitor e
sai da boca do personagem Raymond West em Os Treze Problemas. Ele sopra uma
nuvem de fumaça e repete as palavras, o que dá ênfase sobre mistérios não
solucionados. Por que? Um grupo costuma se reunir para discutir fatos que
ninguém jamais conseguiu explicar. A sagaz Miss Marple, uma das principais
personagens criadas por Agatha Christie, entra em cena. A velhinha ouve os relatos
dos demais personagens e a sua experiência a deixa apta para perceber as
nuances humanas e resolver mistérios. A provocação dada pela frase inicial leva
o leitor a querer saber quais são esses mistérios que, aparentemente, não tem
solução.
“Todo clube tem um chato. O Coronation Club não era
exceção, e o fato de um ataque aéreo estar em andamento não alterava a rotina.”
No início do livro Seguindo a Correnteza
temos dois elementos que chamam a atenção do leitor. O primeiro é a curiosidade
despertada para saber quem é o chato em questão. A quem a narração se refere? O
outro fato é que notamos claramente que não há um ambiente tranquilo, vez que
um ataque aéreo está em andamento. Hercule Poirot, o célebre detetive belga,
grande conhecedor das artimanhas dos criminosos, sabe que tudo é possível.
Poirot recebe a visita da cunhada de um falecido, que alega ter sido avisada
por espíritos. Isso, no entanto, não é o que mais intriga o detetive. Poirot
suspeita do motivo que levou a mulher a procura-lo.
“_Você entende
que ela tem de ser assassinada, não entende?”
Eis as palavras que Hercule Poirot ouve em
sua viagem à Jerusalém. O livro Encontro com a Morte já começa com essa indagação que, além de
suscitar a curiosidade de Poirot em relação ao que pode estar por trás dessa
frase que foi, aparentemente, dita ao acaso, provoca o leitor. Quem entende que
ela deveria ser assassinada? Quem é ela? Por que há um ar de cumplicidade em
quem profere a indagação que dá início ao livro?
“Não sei por onde
começar esta narrativa, mas decidi escolher um almoço numa certa quarta-feira
em minha casa. A conversa, embora no geral irrelevante ao nosso assunto,
conteve alguns incidentes sugestivos que influenciaram os desenrolar dos
fatos.”
Note, caro leitor, que a dúvida do narrador
em relação ao começo da história, traz também elementos que entendeu serem
importantes para o desenrolar dos acontecimentos. Essa é a abertura do livro
Assassinato na Casa do Pastor. O alvoroço acontece quando em, St. Mary Mead, na
casa do pastor, acontece um crime sangrento. No pacato vilarejo não ocorria um
homicídio há quinze anos. Esse é o livro de estreia da engenhosa Miss Marple. A
frase inicial dá uma abertura para que o leitor atente-se aos detalhes do que
será contado logo no início, pois tem ligação com fatos posteriores.
E aí, algum outro início de livro de Agatha
Christie que chama atenção?
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