Manfredo, de Lord
Byron, foi o primeiro livro publicado pela Editora Clepsidra. Trata-se de uma
edição numerada, portanto limitada, que foi traduzida por Antônio Franco da
Costa Meirelles, que também assina o prefácio da edição publicada em 1889.
A cena inicial do
livro se passa no Castelo de Manfredo, que fica no Altos Alpes e também se
desenrola nas montanhas. No primeiro ato, Manfredo, à meia-noite, evoca os “espíritos do universo imensurável”.
Sete espíritos que representam a terra, o oceano, o ar, a noite, as montanhas e
as estrelas aparecem para ouvir o pleito de Manfredo. Notamos aqui que ele tem
alguma ligação com o sobrenatural, o que se revela mais fortemente adiante. E
que denota a sua intenção de tornar-se alguém sobre-humano.
Ele anseia o
esquecimento de si mesmo e chega a conjecturar a possibilidade da morte, que
lhe é negada pelos espíritos evocados e que com ele dialogam. O homem pede
ainda que as vozes que com ele falam tomem uma forma material, para que ele
assim possa vê-los. Eles então se materializam diante dos olhos dele na figura
de uma mulher que surge em cena.
Manfredo tem em si
mesmo o seu próprio inferno e a morte o espreita (mesmo que para ele seja
apenas um desejo) e não podendo dela usufruir, como lhes disseram os espíritos
quando da invocação. E antes que ele se lance à morte, num precipício, o que
nos parece certo quando ela está a poucos passos de realizar esse intento, um
caçador que aparece em cena o detém.
Manfredo é um
homem de poder aquisitivo elevado, inteligente, que verbaliza bem seus
sentimentos e conhecedor das ciências ocultas, que ele utiliza para evocar
personagens que advém do sobrenatural. A
ciência oculta é familiar a Manfredo que a estudou por longo período.
O grande desejo
desse homem parece residir no fato de querer ter transcender o terreno e fazer
contato com a morte, encontra-la ou ter com ela uma negociação para que possa
ter entre os vivos alguém que já partiu. Ele quer, de algum modo, resolver uma
situação que ficou inconclusa em seu passado, decorrente de um crime inominável
e que remete a uma figura que, posteriormente, aparece e que dá alguma clareza
ao leitor. Os espíritos que ele evoca, no entanto, não tratam de questões
passadas, o que o atormenta ainda mais.
O autor Lord Byron
escreveu o poema depois de um período conturbado em seu casamento fracassado e
envolto em escândalos que indicavam que ele tinha um caso incestuoso com sua
meia-irmã, uma moça chamada Augusta Leigh. De certo modo, parece que o próprio
Manfredo exprime o sentimento que o autor tinha em relação à culpa que sentia.
E ao lidar com a culpa, Manfredo, não se vê perdoado pelo que fizera.
Suas dores,
aflições, reclamações acerca da vida são manifestadas no texto, quando ele fala
sozinho ou quando dirige sua conversa a alguém. Manfredo também manifesta a
solidão, é um homem solitário e que não gosta de tratar com o humano. Quando
fala com o caçador, por exemplo, tem até um pouco de aspereza no trato das
palavras que a ele dirige. Outrossim, vale dizer, que Manfredo também é um
homem com certa prepotência, que se vê acima dos demais e incapaz de ceder em
alguns aspectos.
Manfredo “...é um caos tremendo... um misto de luz e
de trevas... de alma de e pó... de paixões e de pensamentos sublimes, em luta
desordenada e sem termo, ora dormentes, ora destruidores...”
Quando da
exposição de um abade sobre a possibilidade de perdoar-lhe os pecados, assim
vistos pela igreja pelo fato de que
Manfredo flerta com as ciências ocultas, Manfredo reluta.
A publicação
trata-se de um poema dramático de Lord Byron que foi escrito entre o período de
1816 e 1817, quando residia na Suíça. O texto tem densidade na sua narrativa e
uma forma de expressão pouco usual nos tempos contemporâneos. Contudo, faz-se inteligível,
cadenciado, bonito de se ler, forte em dramaticidade e passível de
interpretações por parte dos leitores. É um livro que tem uma trama bem
amarrada e se volta também para as questões internas do personagem central.
Manfredo, o protagonista,
tem uma carga de drama bastante acentuada e que dá tempero à obra, manifestado
em sua eloquência e no exagero de suas ações. Ainda demonstra um certo desapego
às convenções sociais e ao cumprimento daquilo que lhe é imposto. Tal qual Lord
Byron expressava uma vida de inadequação aos papéis que eram impostos pela
sociedade, Manfredo se revela assim ao leitor.
Trata-se de um
texto primoroso que deve ser lido por quem gosta de ações que envolvem os
anseios humanos e o sobrenatural.
A tradução
origina-se da obra Dramas de Byron, datada de 1889. Já as ilustrações e
ornamentos que estão presentes no livro foram reproduzidos da edição
nova-iorquina da coletânea The Illustrated Byron. Uma excelente leitura!
Sobre o autor:
Lord Byron nasceu
em Londres no ano de 1788. Sua ascendência nobre não impediu que passasse sua
infância como uma criança pobre, situação que perdurou até seus dez anos de
idade, quando herdou o título, a propriedade e os privilégios de seu tio-avô,
tornase o 6º Barão Byron de Rochdale. Seu primeiro livro de composições
poéticas, escrito quando o autor ainda era menor de idade, foi recebido com
frieza e até malícia, mas em poucos anos sua obra tornaram-no uma das grandes
referência do Romantismo britânico e uma das maiores influências dos movimentos
românticos ao redor do mundo.
Ficha
Técnica
Título: Manfredo
Escritor: Lord Byron
Editora: Clepsidra
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
95
Ano: 2018
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