"Frida - A Biografia" foi escrito
por Hayden Herrera e publicado pelo selo Biblioteca Azul (Editora Globo) em
2011, com tradução de Renato Marques.
O livro, como o título alude, apresenta a
biografia da pintora mexicana Frida Kahlo. Além do prefácio o livro conta a
história da artista em seis partes, traz notas de agradecimento, a bibliografia
selecionada pela historiadora que compôs a publicação, notas, lista de
ilustrações e figuras que são demonstradas ao longo do livro, e índice.
Frida nasceu em 1907, como atesta sua
certidão, mas ela escolheu nascer em 1910, ano da Revolução Mexicana. “Frida decidiu que ela e o México moderno
haviam nascido no mesmo ano.” A artista faleceu em 1954. Criou a sua
estrutura lendária e como enseja a reflexão da arte sobre si mesma, tem em sua mitificação
muita ambiguidade e sentimentos próprios expressados de maneira singular.
A artista teve poliomielite quando criança e
sofreu um grave acidente de ônibus aos 18 anos de idade, em que uma barra de
ferro a perfurou violentamente. Socorrida, foi colocada sobre uma mesa de
bilhar e teve a barra arrancada até que médicos chegassem. Levada ao hospital,
os médicos se questionavam sobre o tempo que ela aguentaria, enquanto faziam a
reconstituição dos danos em seu corpo por meio de cirurgias. Ela sobreviveu.
Entre dores, coletes, remédios, macas, camas, muletas, bengala e cirurgias
construiu sua arte.
Em 21 de agosto de 1929 casou-se com o
muralista Diego Rivera. Ela o havia conhecido quando era adolescente, no
colégio que frequentava e no qual ele pintava um de seus murais. Há relatos que
ela dizia que um dia se casaria com ele.
"Muitas
pinturas de Frida expressam seu fascínio pela procriação, e algumas refletem
diretamente seu desespero por não ter filhos."
A vontade de ser mãe era treinada com a
coleção de bonecas que tinha e os sobrinhos que eram por ela recebidos com
muitos mimos.
Foto: As Duas Fridas. Obra de 1939. |
Depois que Diego Rivera fora pra Mahatman e
Detroit, Frida voltou uma vez ao México quando recebeu a notícia da doença de
sua mãe. Depois que Rivera perdera contrato por manifestação política, o casal
voltou ao México. Frida não gostava de morar nos Estados Unidos. De volta,
estavam eles na casa azul e rosa. Essa última de Diego e a outra de Frida.
Ficavam lado a lado interligadas por uma ponte. Foi nesse retorno que Frida
descobriu que o marido tivera sua irmã mais nova como amante. Contudo, continuaram
casados e Frida tinha enorme carinho pela irmã. Elas se complementavam em suas
diferenças.
Por falar na vida amorosa de Frida, o livro
também relata a sua bissexualidade que fora assumida por ela, cuja primeira
relação acontecera nos tempos do colégio. Ela mantinha alguns relacionamentos
extraconjugais com mulheres e com homens (estes segredados de Rivera). Como
Frida expressa o que sente ou vive na arte que cria, a bissexualidade é
expressa também em algumas de suas obras.
Por Diego Rivera a pintora Frida acaba
vivenciando envolvimentos políticos. Ele era socialista, admirava Trotsky
(que morou em sua casa durante um tempo) e se tornou grande amigo do russo.
Participou de partidos políticos, pintava murais com esse viés, como o feito na
Ford que criou burburinho, chamou a atenção da imprensa e fez perder outro
contrato (que os levou a voltar ao México).
"Ser
uma pintora de imagens folclóricas charmosas, ainda que desconcertantes e
perturbadoras, em muito contribuiu para ajudar Frida em seu processo de
autoinvenção como criatura fabulosa e exótica."
O sucesso de sua exposição em Paris a colocou
no rol de artistas surrealistas. Na verdade Frida Kahlo não se importava com os
"ismos" estrangeiros que classificavam a arte em categorias. A
mexicana queria ser vista como uma artista original, alimentada pela tradição
popular de seu país. Ela, no entanto, ficou feliz de ser aceita nos círculos
surrealistas em Nova York e Paris.
A artista, ao contrário dos surrealistas,
tinha na sua fantasia um produto "do
seu temperamento, vida e lugar". A magia na arte de Frida Kahlo
é de seu anseio para que as imagens das telas afetassem a vida. Tudo ali
tinha experiência de sensações reais.
Foto: Autorretrato. Obra de 1947 |
O historiador Parker Medley escreveu a ela
dizendo que definiria sua obra como "pintura
simbólica consciente, intencional e útil, em oposição às produções
inconscientes, totalmente obscuras e cabalisticas de fraudes engenhosas... Você
sabe claramente o que pintou. Consequentemente, as diferenças, estéticas e
psicológicas, entre honestidade e charlatanismo devem ser disponibilizadas para
o público..."
Frida estava certa quando disse: "Pensavam que eu era surrealista. Mas
não sou. Eu nunca pintei sonhos. Eu pintei minha própria realidade".
Para ela a pintura devia desempenhar um papel na sociedade. E foi o que
transmitiu a seus alunos, os "Fridos", que acabaram por formar uma
agremiação de pintores esquerdistas que comungavam do ideal de levar arte ao
povo.
A história da vida de Frida seria uma
fantástica ficção se nada do que aconteceu em sua vida fosse real. Mas, posto
que trata-se de biografia, fiel a realidade da artista biografada, Frida tem
uma história extraordinariamente fantástica. O livro tem detalhes, trechos de
cartas, citações de pessoas que viveram com ela, trechos de notícias e conta
tudo sobre a grande pintora mexicana.
Foto: Árvore da Esperança. Obra de 1946. |
A historiadora de arte Hayden Herrera nos
fala da infância, dos estudos, das traquinagens da menina, do envolvimento com
a arte, das obras, da manifestação de Frida em suas pinturas, dos casos amorosos,
do envolvimento político, da vida dolorida que teve após o acidente, da sua
relação ambivalente com seus problemas de saúde, dos conhecidos que fez ao
longo da vida como Henry Ford, Nelson Rockefeller, André Breton, Marcel
Duchamp, Sergei Eisenstein, Pablo Neruda e Leon Trotsky.
A autora nos fala sobre o casamento cheio de
amor e tempestade com Diego Rivera, as amantes dele e dela, a relação da
artista com a vida, sobre sua afinidade profunda com o folclore mexicano e com
a cultura de seu país, o que muito é representado em sua arte e nas
roupas utilizadas por ela.
A vida e a obra de Frida estão muito bem
representadas no estudo minucioso feito pela autora. Além disso, a biografia é
bem escrita, fluída, clara e que, aliados ao fascínio que Frida exerce e que a
história de Frida revela, tornam o livro ainda mais prazeroso.
A contextualização das pinturas de Frida
aproximam o leitor da compreensão de sua expressão pessoal, carregada de cores,
desejos, dores, lamentos, alegrias e toda sorte de sentimento que a pintora coloca
em suas telas.
Certa vez questionada por um jornalista se
era pintora, Frida respondeu: "Sim,
a maior do mundo." Frida era peculiar, em tudo. E esse pode ser um dos
motivos de ter se tornado uma artista de estilo único e um ícone pop.
Livro mais que recomendado para quem gosta de
Frida, para quem gosta de arte, para quem gosta de biografias ou mesmo para
quem quer apenas ler um bom livro.
Foto: Reprodução |
Sobre a autora
Hayden Herrera é historiadora, curadora e
professora de história da arte, especializada em arte latino-americana, que
lecionou na Universidade de Nova York. Colaborou com importantes publicações,
entre as quais New York Times, Art in America, Art Forum e Connoisseur. Nas céu
em 20 de novembro de 1940 e vive em Nova York.
Ficha Técnica
Título: Frida – A Biografia
Escritor: Hayden Herrera
Editora: Biblioteca Azul
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-250-4950-6
Número
de Páginas:
620
Ano: 2011
Assunto: Biografia
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